Diário do Alentejo

Plataforma cidadã defendeu aeroporto e ligação de Beja à Funcheira no Parlamento

30 de julho 2023 - 10:00
Partidos mostraram “apoio e concordância” às propostas apresentadas
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Os acessos ao distrito de Beja – e Sul do País – foram o tema que levou a comissão dinamizadora da plataforma cidadã SIM! Ao Aeroporto de Beja a uma audição, no passado dia 19, ao Parlamento, na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação. Os deputados que intervieram no debate mostraram-se sensibilizados com as pretensões do movimento de cidadãos e prometeram não esquecer as reivindicações dos baixo-alentejanos.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O objetivo principal do movimento de cidadãos agrupados na plataforma cidadã é vasto e tem como fim “Defender o interesse nacional. Assegurar a coesão territorial. Promover o desenvolvimento”.

 

Mas a sessão na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação centrou-se num primeiro passo considerado essencial pelo porta-voz dos peticionários, Manuel Valadas: a reativação da linha ferroviária entre Beja e Ourique/Funcheira e a construção da variante ao aeroporto, essencial para a dinamização de todo o Sul com base no triângulo aeroporto/Alqueva/Sines.

 

Manuel Tão, professor universitário e especialista em política de transportes e planeamento regional, esclareceu na sua primeira intervenção, “uma vez mais”, que o pretendido pelo movimento é, tão só, que “o aeroporto de Beja seja complementar ao aeroporto de Lisboa – o novo ou o velho – e ao de Faro”.

 

Apesar disso, o especialista e membro do movimento de cidadãos questionou aqueles que dizem que a infraestrutura aeroportuária alentejana fica “longe”, argumentando que para se chegar a essa conclusão é necessário “quantificar o número de passageiros de negócios e de lazer” e deu como exemplos a favor de Beja os aeroportos de Stansted, em Londres, e Beauvais, em Paris, que distam a cerca de uma hora de viagem das respetivas capitais.

 

Manuel Tão referiu, ainda, um estudo efetuado pela Refer, em 2015, que admite velocidades de mais de 200 quilómetros/hora no troço entre Beja e Ourique, “com poucas obras” e avaliado em “apenas” 130 milhões de euros, valor que representa 0,6 por cento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

 

Esta obra, considera, é fundamental para a atividade do porto de Sines, que “precisa de uma redundância, devido ao previsível aumento da circulação ferroviária” na península de Setúbal.

 

O deputado do PSD, Jorge Mendes, considerou que o aeroporto de Beja “é um polo dinamizador da economia da região” e que a ligação ferroviária de Beja a Ourique “é fundamental para todo o Alentejo”. Ricardo Pinheiro, do PS, foi no mesmo sentido, considerando “extraordinariamente importante que possa acontecer a ligação à Funcheira” e admitiu a “reprogramação dos fundos europeus do Portugal 20/30” para permitir a conclusão da obra.

 

João Dias, deputado do PCP eleito por Beja, disse que, neste caso, “é a estratégia nacional que está em causa”, acrescentando que “o potencial do aeroporto não pode ser condicionado pela [falta] de acessibilidades”. O deputado comunista disse que a ligação de Beja a Casa Branca “não chega” e defendeu “a construção da variante ao aeroporto e a criação de concordância para Évora” – o que permitiria numa ligação direta –, concluindo a intervenção pondo em causa “a necessidade de mais estudos”.

 

Em resposta, Manuel Tão defendeu que o estudo de 2015 “é suficientemente detalhado” e lembrou que em 1976 havia redundância na ligação de Beja para Évora.

 

O professor universitário lembrou, também, que o aeroporto de Faro está a crescer à razão de um milhão de passageiros por ano e que, em breve, “precisará de um aeroporto de apoio”, uma vez que a sua ampliação é impossível devido à ria Formosa.

 

“TECNICAMENTE SUSTENTÁVEL”

Nelson Brito, deputado do PS que foi o relator e presidiu à sessão, considerou a apresentação “tecnicamente sustentável” e que este tipo de iniciativas cidadãs são “positivas” e “funcionam em complementaridade à atividade dos partidos”, disse, em declarações ao “Diário do Alentejo”.

 

“Estas iniciativas são filhas da democracia” e “quem é do Baixo Alentejo defende o interior do País”, considerou o deputado, reconhecendo que existe uma “política de coesão” por parte do Governo que “está em curso”, mas que “nós queremos mais”.

 

O deputado socialista, e ex-presidente da Câmara Municipal de Aljustrel, defende, ainda, que esta proposta “se enquadra no Plano Ferroviário Nacional (PRN)” e que é fundamental “ter uma visão de todo o sudoeste ibérico”.

 

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