Diário do Alentejo

"O que interessa é celebrar a “Cidade do amor” como uma bonita história, mas tendo a consciência de que a autoria das cartas é questionada e questionável"

24 de junho 2023 - 09:00
Foto | DRFoto | DR

Três Perguntas a Marta Páscoa, autora do Roteiro Literário Mariana Alcoforado, ilustrado com fotografias de António Cunha

 

A propósito da apresentação da obra Roteiro Literário Mariana Alcoforado no próximo domingo, dia 25, às 17:00 horas, no auditório do Centro Unesco no âmbito da segunda edição da Feira do Livro de Beja, o "Diário do Alentejo" conversou com a sua autora, Marta Páscoa, sobre os novos percursos traçados que se podem encontrar no livro, bem como a sua opinião quanto à dualidade, científica e histórica, da veracidade da autoria das cartas e da sua ligação à exaltação da cidade de Beja.

 

Texto José Serrano

 

Que novos percursos são traçados nesta sua obra, intitulada Roteiro Literário Mariana Alcoforado que será apresentado no próximo domingo, dia 25, às 17:00 horas, no auditório do Centro Unesco de Beja, no âmbito da segunda edição da Feira do Livro de Beja?

O roteiro literário irá apresentar um percurso que pretende mostrar os pontos de Beja intimamente associados à freira Mariana Alcoforado, que nasceu e morreu nesta cidade. Apesar de se falar muito nesta figura, não havia um percurso de visita estabelecido.

 

O seu livro, As Lettres Portugaises na Biblioteca de D. Manuel II, resultante de um trabalho académico por si realizado, em 2022, suscita incertezas relativamente à autoria das famosas cartas de amor escritas no século XVII e atribuída a Mariana Alcoforado. Pode a investigação científica, alicerçada em factos, “impor-se” ao dogma histórico fortalecido pela crença popular?

Julgo que não. Da mesma forma que não é possível ter provas de que a freira escreveu as cartas, também não se consegue provar que não as escreveu. O que interessa é celebrar a “Cidade do amor” como uma bonita história, mas tendo a consciência de que a autoria das cartas é questionada e questionável. É possível que a freira Mariana tenha vivido uma paixão por um cavaleiro francês aquartelado, por alguns meses, em Beja. Já a escrita e o vocabulário das cartas remete para um universo bem diferente daquele que se viveria no convento da Conceição.

 

Considera que a atribuição da autoria das Cartas Portuguesas a soror Mariana Alcoforado está fundamental e profundamente ligada à exaltação da cidade?

Sim. A descoberta, feita por Luciano Cordeiro, de que em Beja tinha vivido uma freira cujo nome correspondia ao que se encontrava numa nota anónima de uma primeira edição, coincidiu com um período de forte nacionalismo. Defender a autoria da freira era defender a Pátria. Mais tarde, sobretudo, após o 25 de Abril, a defesa desta autoria pretendia exaltar a cidade, contra o que se escrevia em França, ao mesmo tempo que defendia os direitos das mulheres e condenava a Igreja por encerrar jovens mulheres em conventos, muitas delas sem vocação, obrigando-as ao celibato.

 

Comentários