Diário do Alentejo

"A distinção não se encontra desvalorizada. Diria que se encontra subaproveitada"

11 de junho 2023 - 13:00
Foto | DRFoto | DR

Três Perguntas a José Fernandes, presidente da direção da MODA - Associação de Cante Alentejano

 

Texto José Serrano

 

Foi eleito, no passado dia 28 de maio, para dirigir os destinos da MODA ao longo do biénio 2023-2025. Quais os principais objetivos que pretende alcançar?

O principal objetivo passa por cumprir o ambicioso programa de defesa do cante apresentado aos associados. O cante alentejano será aquilo que os grupos quiserem, daí a grande importância de os ouvir e de ouvir os mestres. Quanto à organização, queremos criar núcleos nas regiões de Serpa, Cuba, Évora, Lisboa, Beja e do litoral alentejano. Não podendo esquecer-nos dos grupos existentes fora do território nacional, onde o cante representa um importante fator social de ligação às origens. Contamos ainda, assim a câmara nos apoie, voltar a ter a sede em Beja, junto do centro Unesco. Estamos focados na atualização dos estatutos, criação de um regulamento interno e obtenção do estatuto de utilidade pública. Pretendemos fomentar ações de formação de cante, assim como regularizar métodos de ensino, sobretudo, nas escolas e nos grupos infantis. Importa salvaguardar para memória futura, recorrendo a uma equipa que registe em som e imagem os encontros de corais alentejanos, atuações e levantamentos de modas com velhos mestres. Gostaria, ainda, de ver realizado um congresso do cante alentejano e que fosse editada uma revista, anual, dedicada às nossas vivências. Estivemos parados por mais de quatro anos. Há, assim, muito trabalho administrativo a fazer, mas também muito trabalho de contacto, privilegiando a ligação com autarquias, associações de municípios, movimentos associativos, entidades privadas e entidades públicas ligadas à cultura e ao turismo.

 

Considera que se tem valorizado o cante alentejano desde o seu reconhecimento pela Unesco, em 2014, como Património Mundial Imaterial da Humanidade?

A distinção não se encontra desvalorizada. Diria que se encontra subaproveitada. Esta classificação da Unesco não é propriamente uma distinção, mas sim uma nomeação, uma proteção que é dada a um património que se encontra em risco de desaparecer ou de perder a sua matriz. Não é perpétua e além de avaliações bianuais tem uma avaliação ao fim de 10 anos, que mantém ou retira a atribuição feita. Por isso, a MODA, que foi o principal motor, como órgão associativo, da candidatura do cante a património imaterial, deve manter uma permanente monitorização do que se faz nos diversos grupos corais. Para nos valorizarmos será importante recuperar o nosso espaço no referido órgão, assim como manter um conselho científico, órgão estatutário da MODA.

 

Pertence ao AlCante – Grupo Coral e Etnográfico da Junta de Freguesia de Alcântara, em Lisboa. Como se encontra “de saúde” o cante na diáspora?

Encontro-o saudável, com algum incremento em certas comunidades. Em Lisboa, em 2016, não existia qualquer grupo coral alentejano e agora existem cinco. E, pelo que sei, outros estão em fase de aparecimento na área metropolitana da capital.

Comentários