Diário do Alentejo

"Em territórios do interior esta “abertura” de portas do património deve ser vista de forma estratégica"

16 de junho 2023 - 15:00
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Três Perguntas a Catarina Valença Gonçalves, criadora e coordenadora do projeto de revitalização patrimonial Rota do Fresco

 

Texto José Serrano

 

Quais as conquistas mais relevantes da Rota do Fresco ao longo dos 25 anos que comemora neste mês?

Tendo começado no concelho de Alvito, a Rota do Fresco, primeira rota temática de touring cultural no País, agrega, atualmente, um total de 15 municípios alentejanos – Alvito, Cuba, Vidigueira, Viana do Alentejo, Portel, Évora, Montemor-o-Novo, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, Serpa, Moura, Castro Verde, Aljustrel e Beja. Reunindo mais de 50 edifícios, a Rota do Fresco representa uma oportunidade única de transposição de portas usualmente fechadas, desvendando um património desconhecido da maior parte das pessoas, sejam elas mais ou menos letradas. O pioneirismo, a antecipação, o crescimento e a continuidade, até ao presente, da Rota do Fresco são uma conquista de todos os envolvidos neste caminho já de um quarto de século.

 

No que se tem refletido, junto das populações do território que abrange, a existência deste serviço de turismo cultural?

Este serviço propõe a descoberta do tesouro escondido do Alentejo —  a pintura mural a fresco —, guardando-se estes exemplares, com cerca de 500 anos de existência, muitas vezes sem mácula, na maior parte das igrejas, capelas e ermidas da região. A Rota do Fresco permitiu, assim, contribuir para o reconhecimento do valor e para a consequente preservação deste património, até então relativamente desprezado. Para além deste contributo de valorização do património identitário da região, a Rota do Fresco, pela dinâmica de utilização dos percursos sugeridos, é diretamente indutora de mais atividade turística, sempre que os participantes almoçam, jantam, dormem ou recorrem a outras dimensões do comércio e serviços dos territórios da rota. Por fim, a Rota do Fresco tem gerido e/ou gerado oportunidades de recuperação deste património, criando oportunidades, mobilizando vontades e financiamentos para atender a um património dificilmente considerado prioritário. Atualmente, para além da continuidade das visitas, para público nacional e internacional, a Rota do Fresco trabalha ativamente na recuperação de mais património murário, com a realização de campos de conservação e restauro internacionais.

 

Como classifica a importância do espólio patrimonial do Alentejo para a capacidade de revitalização da região?

No recente estudo “Património Cultural em Portugal: Avaliação do Valor Económico e Social” concluía-se, entre outras coisas, que, caso se abrissem as portas dos cerca de 4500 monumentos classificados em Portugal (de um universo total de mais de 35 000 monumentos), seria gerado um emprego por cada 25 000 visitantes, mais de três por cento de aumento nas dormidas e nos postos de trabalho em hotelaria e 10 vezes mais receita, somente em bilhética, do que o alcançado hoje. Em territórios do interior, que representam 66 por cento do País, esta “abertura” de portas do património deve ser vista de forma estratégica: o que importa garantir é que a porta abre sempre que se queira e não que esteja permanentemente aberta, se assim não for necessário.   

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