Filipa Duarte, coordenadora do projeto "Estou Tão Perto Que Não Me Vês" da Cáritas Diocesana de Beja
Texto José Serrano
Contando com a participação de um grupo de timorenses em situação de sem-abrigo, foi recentemente apresentado, na praça da República, em Beja, o primeiro trabalho artístico no âmbito do projeto “Estou Tão Perto Que Não Me Vês”, da Cáritas Diocesana de Beja. Intitulada “Conexões”, a que reflexão incentiva a performance apresentada?
No âmbito das atividades desenvolvidas no projeto “Estou Tão Perto Que Não Me Vês” houve um olhar para a forma como a experiência de vida das pessoas em situação de sem-abrigo deveria tonar-se visível para a comunidade e como poderíamos contribuir para a alteração de paradigma nas respostas às necessidades destas pessoas. Nesse sentido, considerámos que essa experiência deveria ser mostrada através de narrativas dos próprios, uma vez que o olhar dos agentes de intervenção e da comunidade em geral é tão mais eficaz quanto mais próximo for das reais necessidades das pessoas que experienciam a condição de sem-abrigo.
De que forma poderá a arte, nas suas mais diferentes formas, contribuir para denunciar e debelar a miserabilidade social em que algumas pessoas, nomeadamente, imigrantes, se encontram em Beja?
A dimensão artística, através das suas várias formas de expressão, tem o potencial de abrir espaço para que se habitem lugares não comuns, através da veracidade da vivência dramatizada em processo criativo. Tal permite que o espetador seja protagonista, no sentido de provocar uma reflexão sobre as formas como as pessoas habitam os territórios, na sua diversidade intercultural. Paralelamente, promove a participação e o envolvimento das comunidades civil e com responsabilidades públicas na criação de boas práticas e políticas de inclusão.
Como descreve a evolução da situação dos grupos mais vulneráveis, em particular dos sem-abrigo, que se encontram em Beja?
Infelizmente, temos assistindo a um aumento das situações de maior vulnerabilidade, pessoas em situação de sem-abrigo, nomeadamente, a população migrante. Cidadãos que, pela condição em que se encontram, se deparam com barreiras no acesso ao alojamento e aos cuidados de saúde. Quer ao nível de mercado de arrendamento comum, quer de respostas especializadas para as especificidades que temos vindo a assistir, como o aumento de situações de consumos de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas com comorbilidades ao nível da patologia psiquiátrica. Saliento, no entanto, que a barreira de respostas de alojamento é transversal ao público que acompanhamos em situação de sem-abrigo, independentemente da sua nacionalidade.