Diário do Alentejo

"O cardo é muitíssimo mais do que flor, o cardo é uma planta exemplar em que tudo pode ser valorizado"

02 de abril 2023 - 09:00
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Três Perguntas a Fátima Duarte, diretora executiva do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (Cebal)

 

Texto José Serrano

 

O Cebal promoveu, no dia 23, um seminário sobre a valorização do cardo. Quais as principais conclusões que foram extraídas a partir das reflexões partilhadas?

O II Simpósio Nacional de Valorização do Cardo reuniu, em Beja, 62 participantes, de norte a sul do País, interessados no tema central deste seminário – a “Valorização Multissectorial do Cardo”. Das 11 comunicações orais convidadas, e das 16 comunicações em formato poster, o conhecimento partilhado e discutido permitiu reforçar duas grandes linhas estratégicas em torno da valorização do cardo: a definição de políticas públicas, ajustadas à realidade dos territórios, que assumam o papel central que o cardo pode ter na potenciação de uma bioeconomia circular (sendo, para tal, necessário investimento público e privado, para a criação de unidades piloto de valorização desde o setor primário até à aplicação em indústrias de base tecnológica); e a continuidade das atividades de investigação e desenvolvimento centradas na planta do cardo (Cynara cardunculus) de modo a gerar conhecimento que possa ser posteriormente transformado em soluções inovadoras para a fileira.

 

Podemos dizer que há, ainda, uma subvalorização desta planta, áreas que não estão exploradas relativamente às possibilidades das suas aplicações?

Há claramente uma subvalorização da planta do cardo. A grande mais-valia económica associada a esta planta, nos dias de hoje, na realidade portuguesa, é a utilização da flor para a produção de queijo. No final de 2022 a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) publicou a autorização do uso da flor do cardo como fonte de enzimas alimentares para a produção do queijo. Este foi um passo determinante para a construção da identidade e uso do cardo em contexto de queijaria, mas que agora tem de ser reforçado pela certificação da flor. Mas o cardo é muitíssimo mais do que flor, o cardo é uma planta exemplar em que tudo pode ser valorizado, com objetivos diferentes e aplicações multissetoriais. As folhas são uma fonte riquíssima de compostos químicos de interesse para as indústrias farmacêutica e alimentar, a semente representa uma fonte interessante para a produção de biodiesel, os caules e restante biomassa podem ser utilizados para a produção de aglomerados de baixa densidade para projetos de arquitetura ou design. A produção de bioplásticos e outros biomateriais, cosméticos, alimentação animal, gastronomia estão entre as várias potencialidades de valorização económica do cardo.

 

Considera que existem no território recursos endógenos que devidamente valorizados poderão protagonizar um novo paradigma económico e agrícola no território?

Não tenho qualquer dúvida, mas para isso é preciso reunir o conhecimento disponível, ou gerar novo conhecimento, que sirva de plataforma efetiva à valorização desses recursos naturais. São inúmeros os exemplos em que esses recursos não têm sido devidamente salvaguardados.

 

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