Diário do Alentejo

"No ano de 2022, as forças de segurança registaram mais de 3500 queixas de violência no namoro"

19 de março 2023 - 09:00
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Três Perguntas a Ana Lúcia Pestana, psicóloga do Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica do Distrito de Beja

 

Texto José Serrano

 

O Núcleo de Apoio à Vítima (NAV) de Beja acaba de lançar uma campanha contra a violência doméstica. Como carateriza, atualmente, este flagelo na região?

A nível nacional, as queixas por violência doméstica registaram no ano de 2022 o valor mais elevado dos últimos quatro anos, com 30 389 ocorrências, um aumento de 14 por cento em comparação com o ano de 2021. No que diz respeito à intervenção do NAV, no seu território de atuação, não existiu uma variação significativa relativamente ao ano anterior, tendo sido acompanhados 103 casos de violência doméstica, na esmagadora maioria com mulheres vítimas, que resultaram em quase 500 atendimentos. A este número juntam-se 40 casos de crianças e jovens vítimas de violência doméstica, acompanhados na Resposta de Apoio Psicológico disponibilizada pelo NAV. Se este número é significativo, sabemos que há ainda muitas pessoas que não pedem ajuda e vivem a situação de violência doméstica em silêncio, pelo que esta campanha pretende dar visibilidade a estas histórias.

 

A iniciativa disponibiliza on line uma música e um videoclip – “Dói-me” –, no qual um casal jovem é protagonista. Indicia esta representação ficcional que a violência nas relações de namoro é cada vez mais uma realidade?

Apesar de a música ser uma linguagem universal e de o mote da campanha ser dar voz às vítimas de violência doméstica, apostámos num público-alvo mais jovem, porque queremos trabalhar na prevenção da violência, para que se quebrem os ciclos das relações abusivas cada vez mais cedo. No ano de 2022, as forças de segurança registaram mais de 3500 queixas de violência no namoro, um número que nos deve preocupar e levar a definir ações que respondam à necessidade de proteção da vítima e prevenção deste fenómeno.

 

Quais serão os sinais, no início de uma nova relação amorosa, de um caminho tóxico de violência para a mesma, e qual a atitude preventiva que a(o) plausível ofendida(o) deverá tomar?

Existem diversos sinais a que devemos estar atentos/as, não só na qualidade de potencial vítima, mas também de eventual testemunha de violência sofrida por alguém perto de nós. Amor é sinónimo de respeito. De uma relação saudável não podem fazer parte o controlo da vida da outra pessoa, a possessividade, o ciúme, as tentativas de isolamento, a chantagem emocional, a manipulação, a humilhação ou ameaças de qualquer natureza. Uma das atitudes mais importantes a ter é não romantizar ou desvalorizar os episódios violentos, mesmo aqueles que possam parecer mais insignificantes, considerando que a tendência da violência é aumentar em frequência, intensidade e severidade. Além desta ideia, reforçamos a importância de deixar de ocultar a situação de violência falando com outras pessoas e recorrendo a serviços especializados, como é o caso do NAV. 

 

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