Diário do Alentejo

"Os recursos humanos escassos – dois cardiologistas – não impediram o Hospital de Beja de ser inovador na região Alentejo"

31 de dezembro 2022 - 09:00
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Três Perguntas a Luís Moura Duarte, Coordenador do Setor de Arritmologia do Serviço de Cardiologia da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba)

 

Texto José Serrano

 

O Serviço de Cardiologia da Ulsba efetuou as primeiras ablações de Flutter Auricular Típico. O que significa a possibilidade de se proceder, no Hospital de Beja, a esta técnica?

Significa que o Serviço de Cardiologia não está estagnado. O processo de diferenciação técnica na área da aritmologia iniciado em 2003 com a colocação de pacemakers permanentes, a implantação de desfibrilhadores cardíacos em 2007 e a realização de ablações de fibrilação auricular em 2019 continua o seu caminho. Os recursos humanos escassos – dois cardiologistas – não impediram o Hospital de Beja de ser inovador na região Alentejo. A ablação de flutter auricular típico com cateter irrigado de ablação por energia de radiofrequência para obtenção do bloqueio bidirecional do istmo cavotricuspide constitui um momento de orgulho para o Serviço de Cardiologia. A população residente na área de influência da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo beneficia assim de terapêuticas altamente diferenciadas em proximidade com todas as vantagens inerentes. A proximidade de cuidados traduz-se no maior acesso a novas terapias permitindo aumentar o número de doentes tratados, além de se evitarem os constrangimentos com as deslocações para hospitais centrais. 

 

Existem, no Hospital de Beja, meios humanos e tecnológicos para que esta técnica de tratamento possa suprir as necessidades identificadas ou para que isso se venha a verificar serão necessários meios suplementares?

No próximo ano fará 20 anos que se colocam pacemakers em Beja. Nas últimas duas décadas foram implantados mais de 2000 pacemakers – estes doentes não só foram tratados, perto da sua residência, como também beneficiam de “follow-up” dos vários dispositivos em consulta no serviço de cardiologia. A atividade sustentada e diferenciação crescente na área da aritmologia prova que este é o caminho que podemos e devemos prosseguir. A ampliação do número de tratamentos disponíveis é uma mais-valia para os utentes. A realização destas técnicas representa um trabalho de equipa, altamente diferenciado, esforço de muitos profissionais e nesse sentido é também motivadora e agregadora – médicos, técnicos de cardiopneumonologia, enfermeiros e técnicos de radiologia. Existe, em termos tecnológicos e humanos, espaço para melhoria? Certamente que sim.

 

Como classifica a capacidade de resposta da Ulsba aos doentes cardiovasculares na região?

É a possível com os recursos humanos existentes. Nas 3 Unidades Locais de Saúde do Alentejo existe uma falta nítida de médicos de quase todas as especialidades que os concursos públicos não têm conseguido prover. Esta realidade, de forma mais ou menos gravosa, afeta todo o interior do país. A resposta atual, sendo a possível, é estruturada dando respostas em várias áreas: consulta, internamento, urgência, meios complementares de diagnóstico, implantação de dispositivos e orientação de doentes para cirurgia e/ou técnicas que não se realizam no nosso hospital. Serão necessárias medidas estruturais a nível nacional, mas também medidas específicas para cada realidade local.

 

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