Diário do Alentejo

“Escrevo para fixar instantes, como fazem os fotógrafos”

13 de dezembro 2021 - 12:40

Miguel Elias nasceu em Mértola, gosta da sua terra como as crianças gostam do colo dos pais, e desde os 11 anos que escreve versos. Atualmente vive em Évora e em 2017 publicou, sob o pseudónimo Nuno Ega, o seu primeiro livro, “A viagem do pano branco”, obra poética, com ilustrações da artista plástica Maria Leal da Costa. Há poucas semanas apresentou em Évora o seu segundo livro de poesia, intitulado “O rapaz que não sabia enterrar tempestades”, obra que assina, à semelhança da primeira com o seu pseudónimo.

 

Texto José Serrano

 

Quatro anos após a publicação do seu primeiro livro, eis que apresenta “O rapaz que não sabia enterrar tempestades”. Para além do tempo, que outras circunstâncias separam estas duas obras poéticas?

Quando publiquei o meu primeiro livro, em 2017, eu tinha pronto um outro, não exatamente igual ao agora apresentado, uma vez que acrescentei poemas à versão que então considerava pronta. Um ano após a publicação do “A viagem do pano branco”, passámos a viver dentro das nossas casas, quase não nos movimentávamos fora delas, e esta realidade era incompatível com o nascimento de um novo livro meu. Quando recomeçámos a ter um comportamento mais próximo do normal, comecei a trabalhar para este livro, “O rapaz que não sabia enterrar tempestades”, aparecer. Foi então que me dei conta que quatro anos iriam separar a publicação dos dois livros.

 

Sob que tempestades nasceram os poemas deste livro?

Creio que todos nós atravessamos tempestades – de sentimentos, fatores externos que causam moções em nós, inquietações, desassossegos. Porque a natureza dos humanos é muito diversa, para alguns há tempestades que nunca acabam, às vezes expô-las num papel é a única forma de as serenar.

 

A sua construção poética das palavras é influenciada pela ideia de quem as poderá vir a ler?

Escrevo porque preciso de escrever. Escrevo para serenar tempestades, mas também para exaltar brisas e fixar instantes, como fazem os fotógrafos. Quase sempre, escrevo para mim e para um número reduzidíssimo de pessoas. Quando escrevo só isso me importa. Durante muitos anos, salvo raríssimas exceções, só eu conhecia os meus poemas. Decidi publicar o primeiro livro porque queria fazer desse livro uma oferta, depois pensei que os meus poemas, que tão bem me fazem, talvez pudessem ser úteis para mais alguém. Bastava-me que houvesse uma pessoa a sentir a minha poesia para ter valido a pena publicar. Creio que valeu a pena. 

 

Começou a escrever versos aos 11 anos. Identifica algum momento da sua infância que profetiza uma vida acompanhada de poesia?

O momento em que escrevi o primeiro poema foi uma revelação e o início de um caminho. Escrevi-o em resposta a uma ordem da minha professora de Português. A poesia nasceu para mim nesse momento e tem-me acompanhado desde então.

 

Há quatro anos que partilha o seu mundo com o pseudónimo literário Nuno Ega. O que lhe obsequia esta convivência?

Eu e Nuno Ega confundimo-nos. Miguel Elias é uma criatura comum, faz o que fazem as pessoas comuns. Entre nós, pessoas comuns, uns têm habilidade para a carpintaria, outros para construírem veículos motorizados, uns desenham, outros pintam, uns fazem teatro amador, outros fazem muitas outras coisas. Miguel Elias precisa de escrever e a esta parte de mim chamo Nuno Ega.

 

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