Diário do Alentejo

"O desenvolvimento económico será o nosso grande foco”

13 de dezembro 2021 - 10:20

“Antevejo um futuro com muito e árduo trabalho pela frente. Ainda assim, com uma enorme esperança que seja um futuro risonho e de afirmação de um concelho de gente boa, trabalhadora e resiliente. De gente que terá que ter confiança nas suas capacidades e no caminho que, forçosamente, teremos que trilhar se quisermos inverter o triste destino a que parecia estarmos condenados”, José Manuel Efigénio.

 

O independente eleito nas listas do Partido Socialista, José Manuel Efigénio, novo presidente da Câmara Municipal de Alvito, elege o desenvolvimento económico e a atração de população como as suas prioridades. E afirma que encontrou uma autarquia “desorganizada”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Tomou posse há cerca de um mês, sucedendo a António João Valério. Como é que encontrou a Câmara de Alvito?

Em termos organizacionais encontrei um autêntico pântano. É preocupante a desorganização e o caos que encontrei no funcionamento dos serviços. Existindo apenas um cargo dirigente em quatro possíveis, todas as outras chefias são da responsabilidade de assistentes técnicos que estão na categoria de coordenadores técnicos. Todo o funcionamento organizacional estava e continua a estar totalmente depende do presidente. Em termos financeiros, em abono da verdade, encontrei uma câmara estável, embora seja um facto indesmentível que a situação financeira que o anterior presidente deixou é bem pior do que aquela que encontrou no início do seu primeiro mandato.

 

Quais foram as primeiras medidas deste novo executivo?

Não houve medidas significativas, nem poderia haver. Quem procura fazer uma gestão prudente terá de ponderar, planear, e só depois executar. Temos levado estes dias a “apagar fogos” que nos surgem de todos os lados. Primeiro teremos de nos organizar internamente para conseguirmos liderar projetos que consideramos estruturantes para o concelho. Todavia, uma das medidas que poderei anunciar brevemente é o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Concelho de Alvito.

 

Elegeu o desenvolvimento económico e a atração de população, que considera serem “duas grandes falhas” do concelho, como as suas prioridades. Quais as medidas que pretende implementar para inverter o cenário atual?

Essas são duas enormes falhas. Os dados dos últimos Censos são a prova disso. Com uma população tão reduzida, qualquer perda será dramática. Foi assim na última década, como já tinha sido na anterior. Para quem dizia que estava a fazer um grande trabalho nesta matéria, os números confirmam que não. Creio que será consensual que só com desenvolvimento económico será possível inverter esta terrível tendência. Temos perfeita consciência de que uma aposta estratégica no desenvolvimento económico será uma tarefa bem mais complicada e difícil do que continuar a refazer jardins. Isso é o que tem vindo a ser feito no concelho. Mas queremos “fazer diferente”, porque queremos obter resultados diferentes de forma a inverter a situação preocupante em que o concelho caiu. Sabemos que teremos um trabalho bastante árduo pela frente. Que será um trabalho para décadas. Contudo, nada conseguiremos sozinhos. Pretendemos trazer aos processos de decisão os nossos empresários. Só com eles e para eles fará sentido o nosso trabalho. É evidente que existem medidas, mesmo sem termos ainda o plano estratégico, que sabemos que caberão em qualquer estratégia de desenvolvimento e que iremos desde já dar-lhes andamento. Como a construção e colocação em funcionamento das zonas de atividades económicas de Vila Nova da Baronia e de Alvito; a colocação em funcionamento do Viveiro de Empresas de Alvito e um espaço de trabalho partilhado (‘coworking’).

 

Com que outros problemas se debate o concelho?

O concelho debate-se com dois problemas estruturais e um conjuntural que têm vindo a contribuir decisivamente para a estagnação do seu desenvolvimento. O primeiro estrutural está relacionado com a estrutura etária da população. Temos uma população bastante envelhecida, invertendo de forma bastante significativa a nossa pirâmide etária. E numa população tão reduzida como a nossa esse é um problema que vem ganhando uma maior dimensão e impacto. Fruto dessa circunstância, começa a ser bastante sintomático a ausência de dinâmicas económicas, sociais e culturais dentro da nossa população. O segundo estrutural diz respeito às deficientes vias de comunicação. Alvito, neste momento, certamente possuirá as piores estradas comparativamente com os concelhos limítrofes. E sobretudo quando essas estradas são fustigadas diariamente por largas dezenas de viaturas de grande tonelagem. Iremos ser incansáveis e resilientes na reivindicação da resolução desta situação junto das entidades competentes e das suas tutelas políticas.

 

Quanto ao problema conjuntural?

O problema conjuntural deriva e é consequência da total ausência de uma visão estratégica virada para o desenvolvimento económico do concelho, sobretudo dos executivos liderados pela CDU nos últimos 12 anos. O concelho de Avito é o único no Alentejo que não tem em funcionamento uma infraestrutura de acolhimento empresarial, quando a câmara até possui terrenos adquiridos para o efeito, na freguesia de Alvito e de Vila Nova da Baronia, há 17 e 14 anos, respetivamente. Este facto comprova cabalmente essa ausência de visão estratégica para o desenvolvimento económico que tem imperado no concelho. E este será um problema a que iremos dar prioridade absoluta, pois o desenvolvimento económico será o nosso grande foco, visto que só por esta via conseguiremos captar investimentos, criar postos de trabalho, atrair pessoas e conter a saída dos que cá estão.

 

E no que concerne às alterações climáticas, quais são as vulnerabilidades atuais e futuras do território e qual deverá ser a estratégia a adotar?

O concelho de Alvito, tal como todos os outros situados na região, não está imune à problemática das alterações climáticas. O Alentejo é uma das regiões mais vulneráveis do País a essas alterações. Temperaturas bastante elevadas aliadas a períodos cada vez mais longos de ausência de pluviosidade levam à rápida erosão dos nossos solos agrícolas. A estratégia da autarquia terá de passar por diversos eixos e áreas de atuação, como a sensibilização e educação da população para a problemática da defesa do meio ambiente; criação, adequação e implementação de planos, como o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, entre outros. [Pretendemos também a] criação de uma “cultura verde”, de forma a que os nossos ‘stakeholders’ percecionem que é possível viver num ambiente verde no concelho e, consequentemente, também tragam negócios e investimentos verdes para cá.

 

PRR É DE “IMPORTÂNCIA ENORME”

 

Qual a importância que atribui ao Plano de Recuperação e Resiliência?

O PRR será de uma importância enorme, não só para o concelho, como para todo o Alentejo. É muito dinheiro que estará disponível. Teremos é que ter a arte e o engenho de bem aproveitar esta grande oportunidade. Este é um plano para termos uma estratégia regional e territorial bem definida, consolidada e consequente. É óbvio que cada um dos municípios, de per si, terá que fazer o seu trabalho, mas seremos mais fortes e obteremos melhores resultados se estivermos juntos nessa caminhada.

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