Diário do Alentejo

Concessionária do aeroporto de Beja disponível para investir

09 de dezembro 2021 - 10:20

Conselho Consultivo reuniu após dois anos de interregno. Da Vinci manifesta interesse em ampliar infraestrutura do Baixo Alentejo. Presidente do Nerbe defende “desenvolvimento em todas as vertentes”.

A empresa Vinci, concessionária do aeroporto de Beja, mostrou disponibilidade, pela primeira vez, para ampliar esta infraestrutura. A novidade saiu da reunião do conselho consultivo ao aeroporto.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Depois de mais dois anos de inatividade, o conselho consultivo do aeroporto de Beja – constituído pela Vinci, Associação Empresarial do Baixo Alentejo (Nerbe/Aebal), Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) e Entidade Regional de Turismo (ERT) – olhou para o presente, fez um balanço do passado recente e perspetivou os tempos mais próximos. Presentes, entre outros, Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, em representação da Cimbal, e David Simão, presidente do Nerbe que saíram com um sentimento de otimismo em relação ao futuro.

 

“Saí muito otimista”, disse ao “Diário do Alentejo” David Simão. “Pensamos que o aeroporto de Beja é uma infraestrutura que precisa de ser desenvolvida em todas as suas vertentes” e, segundo o novo presidente do Nerbe/Aebal, estão a ser dados passos nesse sentido.

 

Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja e representante da Cimbal, em declarações à comunicação social, também disse que a Mesa-HiFly, empresa de reparação e manutenção de aeronaves a operar no aeroporto do Baixo Alentejo, tinha a intenção de adquirir os dois lotes ainda vagos para fazer crescer o seu negócio.

 

O autarca revelou ainda que a Vinci, proprietária da ANA – Aeroportos de Portugal, representada na reunião pelo seu presidente, se mostrou disponível para ampliar o aeroporto, nomeadamente com o melhoramento do ‘taxiway’, e avançar com o desenho de mais sete lotes, o que permitiria que outras empresas ligadas à atividade aeroportuária se instalassem na região.

 

David Simão acredita que “as entidades envolvidas estão a trabalhar para aproveitar as oportunidades” que possam surgir, mas avisa que “o tempo na indústria aeronáutica é muito diferente” do que é em outros setores económicos. E exemplificou: “A abertura de uma nova rota no aeroporto de Lisboa pode levar anos a ser negociada”.

 

Paulo Arsénio disse ainda que, neste momento, são 110 os trabalhadores que diariamente prestam serviço no aeroporto, sendo que 86 são funcionários da Mesa-HiFly. David Simão acredita que este número pode subir e antevê a possibilidade de criar mais empregos especializados, o que seria bom para a economia da região e que pode ser uma realidade a breve prazo, já que Paulo Arsénio revelou que se encontram “muito avançadas as possibilidades de instalação de uma nova empresa do setor da carga e da logística na zona do aeroporto”.

 

O representante dos empresários do Baixo Alentejo diz que o aeroporto da região, “com várias valências, é fundamental para potenciar mais dinâmicas empresariais”, principalmente do setor agroindustrial. Mas também defende que o transporte de passageiros regulares deve ser equacionado. Aliás, números agora divulgados referem que, no último ano, passaram pelo Aeroporto de Beja 2500 passageiros em voos privados, o que demonstra a potencialidade da infraestrutura também neste setor do negócio aeroportuário.

 

No entanto, para já, Paulo Arsénio diz que a opção mais viável é nas áreas da “carga, logística, manutenção, engenharia e no incremento do número de voos privados”.

 

David Simão disse ao “Diário do Alentejo” que da reunião saiu um compromisso para “a normalização das reuniões” de forma que os responsáveis pela infraestrutura alentejana possam dar “a conhecer à região o que se está a passar a cada momento” e, dessa forma, “evitar esforços isolados” dos outros parceiros e da comunidade civil em geral.

 

UMA HISTÓRIA COM DUAS DÉCADAS

No ano 2000, durante o Governo de António Guterres, foi decidido iniciar o estudo de viabilidade da pista de Beja ser aberto ao tráfego civil. Sete anos passados e várias exigências ultrapassadas – PDM, Estudo de impacto ambiental, projetos de execução – em 2007 começaram as obras que terminaram em 2009. No entanto, só em 201, em abril o aeroporto começou a operar com o voo inaugural, promovido pelo município de Ferreira do Alentejo, ligou Beja a Cabo Verde.

 

Daí para cá foram poucos os voos comerciais que ali tiveram lugar: alguns ‘charters’ durante o verão; deslocações para estágio no estrangeiro do Benfica e Sporting e pouco mais. No entanto, na sua história já estão marcados dois momentos únicos: em novembro de 2018, avião da Air Astana, pouco depois de ter saído das oficinas da OMGA, em Alverca, declarou estado de emergência por ter deslocado com os comandos invertidos. A aeronave sobrevoou a região a Norte de Lisboa e o Alentejo numa trajetória irregular e “fora de controlo” como o “DA” noticiou.

 

A solução encontrada para o Embraer 190-100 aterrar em segurança, duas horas depois do sinal de alerta, foi a aterragem com sucesso acompanhada por meios da Força Aérea Portuguesa (FAP) no aeroporto de Beja. Em 2020, já em plena pandemia, a companhia Hi-Fly utilizou pela última vez a pista do Baixo Alentejo para operar o maior avião de passageiros do Mundo, o Airbus A380. Beja era o único local onde, no continente podia operar, o que acontecia desde 23 de julho de 2018.

 

BEJA FORA DO ‘CLUSTER’ AERONÁUTICO

São mais de 90 empresas, com um volume de negócios superior a 1,7 mil milhões de euros e que representam cerca de 18.500 postos de trabalho. Nome: AED Cluster Portugal. É o ‘cluster’ português para as indústrias de aeronáutica, espaço e defesa, com sede em Évora, em cujos órgãos dirigentes não se encontra nenhuma entidade ligada ao aeroporto de Beja. Fonte deste organismo refere que o ‘cluster’ envolver mais de 90 entidades estabelecidas em Portugal, entre as quais “os principais ‘stakeholders’ dos três setores, posicionando-se como um ponto de entrada no país e elemento dinamizador para todos os atores nacionais e internacionais”. Os seus objetivos estratégicos enquadram-se “dentro de quatro pilares principais”, designadamente o financiamento e regulamentação; pessoas e competências; inovação e valor; mercados e oportunidades -, “com a clara missão de promover o avanço e consolidação de Portugal como referência internacional nos mercados globais da aeronáutica, espaço e defesa”.

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