Diário do Alentejo

Baixo Alentejo: Só 30% dos residentes com acesso a banda larga

18 de novembro 2021 - 11:40

Dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que em 2020 perto de um quinto da população do concelho de Barrancos não dispunha de acesso à Internet de banda larga em local fixo, a percentagem mais baixa no distrito de Beja. Autarcas e empresários da região reclamam iguais condições de disponibilidade de serviço em todo o território.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Barrancos é o concelho do distrito de Beja com menor percentagem de população com acesso à Internet de banda larga em local fixo, 22,42 por cento, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) respeitantes a 2020. Um valor que é quase metade da média nacional (40,40 por cento) e quase um terço do do concelho de Lisboa (59,56),

 

Seguem-se, no distrito de Beja (que, para fins estatísticos, é entendido como a sub-região Baixo Alentejo), os concelhos de Serpa (28,13 por cento) e de Almodôvar (29,91). As percentagens mais elevadas de cobertura registam-se em Beja (39,54 por cento), Aljustrel (36,68) e Castro Verde (34,87), todas acima da média do Baixo Alentejo – 33,96.

 

Comparativamente a 2015, os concelhos de Mértola (mais 76 por cento em 2021), Ourique (mais 69,9) e Almodôvar (mais 48,2) são os que apresentam o aumento mais significativo de cobertura no acesso à Internet de banda larga fixa. Alvito (mais 32,8 por cento), Castro Verde (mais 36,3) e Beja (mais 32,8) o menor.

 

No Alentejo, o Baixo Alentejo é a sub-região com menor percentagem de população com acesso à Internet em local fixo (os já mencionados 33,96 por cento), seguido do Alto Alentejo (35,75 por cento), Alentejo Central (38,07) e Alentejo Litoral (38,71).  A nível nacional, e ainda por sub-regiões, as percentagens mais elevadas verificam-se no Algarve (53,59 por cento) e Área Metropolitana de Lisboa (44,85); as mais baixas no Alto Tâmega (26,57 por cento) e Tâmega e Sousa (26,85).

 

COBERTURA DEFICITÁRIA AFASTA INVESTIMENTO

“As zonas de baixa densidade populacional devem ter as mesmas condições de acesso e de disponibilidade de serviço que as zonas de média e elevada densidade populacional”, considera, em declarações ao “Diário do Alentejo, o presidente da Câmara Municipal de Barrancos. “É um serviço público, que deve ser igual de norte e a sul”, reforça Leonel Rodrigues, acrescentando que “se queremos avançar no desenvolvimento das zonas rurais do interior, em grande parte, os acessos à banda larga, dados móveis, Internet e ‘wi-fi’ serão uma das ferramentas precursoras do próprio desenvolvimento”.

 

O presidente da Câmara de Serpa, por sua vez, diz que o “município tem vindo, desde há algum tempo a esta parte, a contactar as empresas fornecedoras do serviço e as entidades competentes na matéria, face às dificuldades que se fazem, por vezes, sentir em algumas localidades e das informação que recebemos dos munícipes, relacionada com constrangimentos na utilização, como falhas na rede e a morosidade nos acessos”. João Efigénio Palma sublinha, ainda, que “a autarquia está empenhada em dotar o concelho com melhores serviços de Internet, tendo em vista a qualidade de vida dos munícipes, bem como o desempenho e a competitividade das empresas locais”.

 

Para o presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral (Nerbe), a cobertura deficitária de comunicações é um fator “extremamente limitativo”. “Cada vez mais as empresas estão num processo de digitalização, quer seja de gestão de ‘stocks’, gestão de faturação, prospeção comercial”, diz David Simão, sublinhando que o acesso à Internet “é uma condição indispensável no fator de atração das empresas de base tecnológica”, sendo que, no caso das outras, uma cobertura deficitária ou inexistente “é um fator dissuasor”.

 

“Acaba por ser um fator dissuasor do investimento e do crescimento económico do interior. A cobertura de Internet é uma coisa que deveria ser unânime em termos de território nacional”, frisa.

 

No entender do responsável, é necessário “que quem governa decida, de uma forma pragmática, que todo o território nacional deverá ter a mesma cobertura” e que “imponha às empresas que implementam esse serviço que tenham esse mesmo nível de cobertura, para que o interior do País ande à mesma velocidade e tenha as mesmas potencialidades do litoral”.

 

E considerando, por exemplo, o caso da incubadora de base tecnológica que o Nerbe está a implementar, criando “as condições para fixar empresas de base tecnológica”, e o facto de as outras empresas “terem já de vencer todas as dificuldades ligadas às acessibilidades, à falta de ferrovia, à falta de infraestruturas rodoviárias, implicando serem empresas resilientes, criativas”, David Simão reforça que “é impensável que os nossos governantes não tenham a consciência de que o acesso às acessibilidades informáticas, à cobertura de Internet, deva ser uma coisa homogénea no território nacional”.

 

Já o vice-presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (Cppme) e presidente do núcleo de Beja, diz que as falhas ao nível de acesso às comunicações são “um fator de desigualdade nas empresas”, que causa “alguns constrangimentos”. “Hoje em dia, e cada vez mais, a digitalização é um fator determinante nas empresas. E por digitalização não é só ter um site na Internet. É ao nível da agilização de processos, como as empresas se relacionam umas com as outras”. Mas, para além dos problemas de cobertura, Duarte Lobo acrescenta como preocupante “o preço das comunicações, e também da eletricidade”, dois aspetos “que têm um peso cada vez maior” no funcionamento das empresas, e, particularmente, das micro.

 

A solução, diz, passará “pelo investimento público na expansão ou criação deste tipo de tecnologias, para garantir a igualdade entre os territórios e permitir que empresas que se situem em Barrancos, Serpa ou Mértola, ou numa zona remota de qualquer um destes concelhos do Alentejo, possam ter exatamente as mesmas condições de acesso à informação, a serviços, de quem está em Lisboa”. O vice-presidente da Cppme defende, ainda, “alguma regulação nos valores das comunicações”.

 

“Dificilmente, por questões puramente económicas, os operadores nacionais irão investir [nas regiões de interior]”, acrescenta ainda, lembrando que “isso tem acontecido com diferentes tecnologias”, nomeadamente, com a TDT (Televisão Digital Terrestre). “Quando há mudanças estruturais de tecnologia que afetam os portugueses, as zonas deprimidas têm sido sempre das mais afetadas na obtenção dos serviços”, conclui.

 

400 MILHÕES PARA ALARGAR COBERTURA NO INTERIOR

A ministra da Coesão Territorial anunciou, no passado mês de outubro, que, até ao final do ano, será aberto um concurso internacional para operadores de Internet fixa e móvel para alargar a cobertura no interior, num investimento de cerca de 400 milhões de euros. “Temos já previsto no âmbito do Portugal 2030, do próximo quadro comunitário, verbas para lançarmos um procedimento concursal, uma vez que no interior os operadores não vêm sem apoio, sem financiamento, para podermos dotar esses territórios de conectividade digital fixa e móvel”, explicava Ana Abrunhosa, citada pela Lusa. Em finais de julho, por ocasião de uma conferência realizada no Alto Minho, a governante afirmava que a “conectividade digital” é “determinante” para o desenvolvimento do interior, para que as populações tenham acesso, por exemplo, à telemedicina, ao teletrabalho, à telescola e a um conjunto de serviços fornecidos virtualmente.

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