Diário do Alentejo

"Autarcas criam dependência para garantirem o poder"

07 de setembro 2021 - 10:10

O presidente da distrital de Beja do PSD considera que o distrito “atravessa uma profunda crise”, exibindo “assimetrias evidentes”, comparativamente a outros territórios do País. Uma situação que, de acordo com Gonçalo Valente, tem origem no “esquecimento” do Poder Central face à região, manifestado na carência de investimento público indispensável para “fixar e atrair pessoas”. Uma situação que se poderia ter atenuado, diz, “se as 10 autarquias que o PS detém no distrito priorizassem mais a sua região, em vez de se mostrarem totalmente subservientes ao seu partido e ao Governo”.

 

Texto José Serrano

 

Que retrato, atual, faz do distrito de Beja?

O distrito de Beja atravessa uma profunda crise, que se tem vindo a acentuar ao longo dos anos. As assimetrias para com outras regiões do País são evidentes – somos preteridos, constantemente, no que concerne ao investimento público. A reduzida base eleitoral e a pouca representatividade na Assembleia da República são os motivos que, quanto a mim, explicam esta situação – simplesmente não contamos. Recentemente, poder-se-ia ter atenuado esta evidência se as 10 autarquias que o PS detém no distrito de Beja priorizassem mais a sua região, em vez de se mostrarem totalmente subservientes ao seu partido e ao Governo.

 

Como classifica, de forma global, a mudança operada no distrito de Beja, nos últimos quatro anos, consequente do exercício dos mandatos eleitorais autárquicos, iniciados em 2017?

O PS conquistou algumas câmaras ao PCP, fruto do estado de graça do Governo à altura, de um visível desgaste e do envelhecimento do PCP. O PS conseguiu passar a mensagem que com o Governo do mesmo partido seria mais fácil garantir uma descriminação positiva para este território. Passados quatro anos, podemos perceber que não resultou e não tirámos qualquer partido dessa condição.

 

Os dados preliminares dos Censos 2021, recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam que o Alentejo é a região do país que regista o decréscimo de população mais expressivo (6,9 por cento), com a capital de distrito, Beja, a registar um decréscimo percentual idêntico (-6,8 por cento). O que representam, politicamente, estes indicadores?

Estes indicadores demonstram falta de investimento na região, de políticas descentralizadas e de medidas que permitam não só atrair pessoas, como fixar aqueles que já cá estão. Quando não investimos, quando não semeamos, como poderemos colher? Acho também que os autarcas de hoje limitam-se a criar dependência nas pessoas, para garantirem o poder, em vez de serem promotores dos seus concelhos. Se não promovermos políticas de ‘marketing’, se não mostrarmos aquilo que temos para oferecer, se não explicarmos porque é que devem olhar para nós como um destino, torna-se difícil de cativar alguém e fomentar interesse.

 

Considera que as várias forças partidárias do distrito deveriam assumir, ainda que divergentes nas suas visões políticas, uma estratégia concertada, de valorização e desenvolvimento do território, ou encara esse entendimento inviável?

Acho que os partidos nasceram para servir as pessoas – deveria ser essa a sua verdadeira essência. Considerando que só com uma união de forças políticas será possível desenvolver o território, será nossa obrigação responder a esse desígnio. Todas as estruturas políticas querem o melhor para a sua região, disso não tenho dúvidas, há então que perceber onde convergimos e encontrar soluções equilibradas onde concordamos menos. Se o foco forem as pessoas e a região, em detrimento dos interesses partidários, acredito que é possível. Eu estou disponível para isso.

 

De que forma classifica a “preocupação” com que o poder central, através dos seus vários Governos, tem olhado para o distrito de Beja?

O poder central, através dos seus vários Governos, votou ao esquecimento a nossa região. Houve investimentos, muito pontuais, com dimensão, tal como Alqueva – tudo o resto não passou de manutenções. Muito pouco para uma região que é a terceira que mais contribui para o Produto Interno Bruto ‘per capita’ nacional. Enquanto não tivermos votos, nunca ganharemos importância. E para termos votos precisamos de pessoas, para termos pessoas precisamos de ter emprego para oferecer. Tudo o que fugir disto é para mim demagogia e politiquice populista, que eu abomino veementemente.

 

Quais as principais questões que deverão ser alvo de atenção dos presidentes de câmara que serão eleitos a 26 de setembro, em prol dos seus concelhos e do distrito de Beja?

Essa questão é muito relativa, pois as necessidades de cada município são diferentes, sendo a fixação de população uma matéria transversal a todos. A mitigação dos impactos da pandemia será outra questão que todos deverão assumir como uma prioridade, já que põe em causa o desenvolvimento socioeconómico do concelho e do próprio distrito, por consequência.

 

O que considera ser, para o seu partido, um bom resultado eleitoral autárquico, no distrito de Beja?

Um bom resultado é aumentar o número de eleitos, face a 2017, e disputar os municípios onde temos mais implantação e mais história. Este será um escrutínio muito importante, tendo em vista a reafirmação do PSD no distrito. Todos temos trabalhado muito para isso. Quero aproveitar a oportunidade para agradecer a todos os candidatos que aceitaram integrar as listas do PSD, no distrito. Obrigado a todos!

 

“É PRECISO HAVER UMA APOSTA NO TERRITÓRIO”

Que medidas são necessárias tomar, no seu entender, para que no próximo Censos, em 2031, os números demográficos, no distrito de Beja, sejam, efetivamente, mais animadores?

É preciso haver, claramente, uma aposta no território, por parte do poder central. É fundamental encontrar uma solução para o aeroporto de Beja, modernizar as acessibilidades, diversificar as potencialidades de Alqueva, aumentar a nossa representatividade na Assembleia da República, haver uma discriminação positiva com incentivos fiscais, salariais e um investimento ao nível da descentralização de serviços. Todas estas medidas fomentam a fixação de pessoas. Só fixando e atraindo pessoas será possível contrariar os indicadores, que nos são, paulatinamente, muito adversos.

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