E do dia 23 em diante, está agora a completar duas semanas, Francisco Duarte só por uma vez saiu do seminário – foi na sexta-feira, dia 28 de agosto, altura em que realizou um teste de despistagem à covid-19. O resultado ser-lhe-ia comunicado dois dias depois, também pela manhã: Negativo. O que, neste caso, é positivo. Ou seja, não havia vestígios de coronavírus no corpo do taxista. Nada de nada. Nenhuma infeção. Mas a obrigatoriedade de continuar confinado por mais alguns dias, pois recomenda a prudência que em tempo de pandemia é melhor não levantar a guarda.
É através do telefone que Francisco Duarte conta ao “Diário do Alentejo” o ritmo, lento, dos seus dias de confinamento, passados com a paciência e a lucidez, possível, que o momento pressupõe: “Não tenho horários, nem para me deitar, nem para me levantar. Ontem deitei-me pelas sete e meia. Mas tenho de andar. O quarto ainda tem para aí uns seis metros, da porta à janela, e uns cinco metros de largura. Dá para eu andar aqui um bocado. Ando de dia e de noite. Levanto-me sempre cedo. Às seis e meia, sete horas, há estou a pé. Levanto-me e abro a janela”.
Com o teste negativo, sem qualquer dos sintomas de alerta referenciados pelo enfermeiro que o acompanha à distância, tais como dores no corpo, erupções cutâneas, dores de garganta, dores de cabeça ou lacrimejar dos olhos, Francisco Duarte subtrai os dias que o separam do desconfinamento, os dias que o separam do trabalho, os dias que o separam da família, os dias que o separam da vida que evolui para lá dos limites do primeiro piso do seminário de Beja. Amanhã, sábado, dia 5 de setembro, 14 dias após de ter entrado em reclusão, 15 dias depois de ter transportado o primeiro paciente com covid-19 da Salvada, Francisco Duarte deverá ser devolvido à azáfama do quotidiano em tempos de pandemia. Para contar, fica a história dos dias de angústia passados na clausura de um quarto de seminário.