Diário do Alentejo

Projeto da Alentejo XXI apoia imigrantes residentes em Beja

03 de julho 2020 - 16:00

Em tempo de pandemia, a equipa do projeto Desafia.te realizou 15 ações de informação e sensibilização para a prevenção da covid-19 junto dos grupos populacionais com vulnerabilidade acrescida no concelho de Beja. “Deparámo-nos com situações de precariedade extrema”, diz a coordenadora do projeto, Maria João Lanita, em entrevista ao “Diário do Alentejo”.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

O que é o projeto Desafia.te?

O projeto surge no âmbito de uma candidatura à linha de financiamento do Programa Operacional da Inclusão Social e Emprego, tendo como entidade coordenadora e executora a Alentejo XXI – Associação de Desenvolvimento Integrado do Meio Rural. O projeto teve início a 2 de dezembro de 2019 e visa potenciar os territórios e capacitar os cidadãos e as famílias, promovendo a equidade, igualdade de oportunidades e inclusão social dos grupos populacionais que revelam maiores níveis de fragilidade social. Tem como prioridade de investimento a inclusão ativa, através de ações a executar em parceria, de forma multissetorial e integrada, que permitam contribuir para o aumento da empregabilidade, para combater a pobreza e a exclusão social. O projeto integra uma equipa multidisciplinar constituída por cinco elementos: duas psicólogas, duas assistentes sociais e um animador sociocultural.

Como é que o projeto chega aos destinatários?

Através da Rede de Apoio à Comunidade. Esta rede de apoio agrega um conjunto de respostas/atuações que se revelaram necessárias num contexto de emergência social. Destas atividades, salientamos a realização de 15 ações de informação e sensibilização para a prevenção e proteção no âmbito do novo coronavírus, junto dos grupos populacionais com vulnerabilidade acrescida no concelho de Beja: comunidade cigana, comunidade imigrante e população idosa. As ações foram desenvolvidas em articulação com os mediadores municipais interculturais do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), projeto Rostos com Futuro (promovido pela Câmara Municipal de Beja e que tem como entidade beneficiária a Cáritas Diocesana de Beja) e alguns presidentes de juntas de freguesia.

 

Qual o conteúdo das ações desenvolvidas?

Promovemos o acesso a documentação informativa e esclarecemos algumas dúvidas que ainda persistiam sobre a covid-19. Foram ainda partilhadas estratégias para lidar com as alterações nas dinâmicas familiares, consequência da nova realidade de confinamento, de modo a diminuir a sensação de isolamento e solidão, contribuindo para o seu bem-estar. Em suma, procuramos auxiliar, informar, aconselhar e encaminhar a população com maior risco, através de atividades de apoio, vigilância e sensibilização sobre as boas práticas em contexto de pandemia.

 

Como foi com as comunidades imigrantes?

No que respeita à comunidade imigrante, foi distribuído material informativo nas línguas de origem, com o objetivo de esclarecer sobre a pandemia e sobre os seus direitos nesta situação. Recorde-se que está em vigor um despacho do Governo que concede o direito de regularização aos imigrantes, permitindo-lhes aceder a apoios sociais e ao Serviço Nacional de Saúde.

 

Que realidade encontraram?

Encontrámos um sentimento transversal a todas as comunidades, de ansiedade e medo do presente, e de incerteza quanto ao futuro. A pandemia trouxe também o desemprego numa elevada escala. Foi, principalmente, junto da comunidade imigrante, um grupo de risco acrescido pelas condições de habitabilidade, que nos deparámos com algumas situações de precariedade extrema: numa casa residem 20, 30 ou 40 imigrantes. Estas situações ficaram identificadas e foram, posteriormente, tomadas diligências junto das entidades competentes. O número de casos registados de covid-19 nestas comunidades tem sido colocado em dúvida por ser difícil apurar se existem ou não pessoas infetadas, uma vez que estes trabalhadores receiam contacto com as autoridades, ou por não saberem que têm direito ao atendimento no Serviço Nacional de Saúde, ou por receio de serem repatriados, atendendo à sua situação legal.

 

Qual o balanço destas intervenções?

Na maioria das comunidades intervencionadas verificou-se uma necessidade de respostas concretas, algo que não estava ao nosso alcance no imediato. Houve, talvez, um pouco de “frustração”, mas uma frustração controlada, na medida em que perceberam que não conseguíamos resolver os problemas identificados como se de um passo de mágica se tratasse. Ainda assim, o objetivo da nossa intervenção foi alcançado. Fomos bem recebidos, ouviram os conselhos e a informação que lhes disponibilizámos. Levámos a todas as pessoas que visitámos alguma esperança e ajuda, levámos também muitos exemplos de boas práticas, para que se pudessem proteger da melhor forma possível. Em suma, são ações deste cariz, que de certa forma, dão também sentido à existência do projeto Desafia.te e que promovem de forma positiva o desenvolvimento social local.

 

“ESTAMOS A AVALIAR O IMPACTO DO CONFINAMENTO”

O que se pode esperar, no futuro, do deste projeto?

Não estão agendadas novas intervenções presenciais junto da comunidade, mas sempre que se mostre necessário, por nossa identificação ou referenciação dos parceiros, serão movidos os mecanismos e planeadas novas iniciativas, que se sustentarão sempre numa componente para a sensibilização das questões de igualdade e equidade, com investimento na inclusão ativa e na promoção de boas práticas. Estamos a concluir a análise dos resultados de um questionário para avaliação do impacto do confinamento nas dinâmicas das famílias, ao nível das relações, saúde e bem-estar, na tentativa de se avaliar novas fragilidades sociais que necessitem de ser intervencionadas, onde se irão aferir os indicadores chave a trabalhar num segundo momento, sobretudo ao nível da saúde mental.

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