Diário do Alentejo

Ordem do Arquitetos: Três listas para o Conselho Regional

22 de junho 2020 - 22:00

A Ordem dos Arquitetos (OA) vai eleger no dia 26 de junho os órgãos sociais para o mandato 2020-2022 e, pela primeira vez, haverá no País sete secções regionais, uma das quais a do Alentejo. Os quase 27 mil arquitetos do País – 554 inscritos no Alentejo – votam (através de voto eletrónico, que é recomendado em consequência da pandemia de Covid-19) entre os dias 17 e 26 de junho.

 

Texto Carlos Lopes Pereira

 

Três listas apresentam candidatos a todos os órgãos, nacionais e regionais. No caso das secções regionais, existem três órgãos: conselho diretivo, mesa da assembleia e conselho de disciplina.  O “Diário do Alentejo” colocou questões a cada um dos candidatos à presidência do Conselho Diretivo Regional do Alentejo – Cláudia Gaspar, da Lista A (“Uma Ordem presente”), Luís Ferro, da Lista B (“A Ordem és tu”) e Pedro Guilherme (“Isto só lá vai com todos”).

Cláudia Gaspar, Lista A

“Oportunidade para os poderes repensarem

as suas cidades, o espaço urbano e o rural”

 

Como avalia as alterações na estrutura da OA, em particular a criação da Secção Regional do Alentejo?

Este é o primeiro passo para se começar a encurtar a distância entre a Ordem e os seus membros, algo que era particularmente gritante nas regiões mais afastadas das atuais sedes de Lisboa e Porto. Mas o estar mais próximo não é sinónimo de estar presente. Veja-se os amigos que passam a morar no mesmo bairro e que muitas vezes se veem ainda menos. Daí o nome da Lista A – “Uma Ordem presente”. É ambicioso, mas pretendemos estar presentes em todo o território disperso do Alentejo (no Alto, Central, Baixo e Litoral), através da implementação não apenas da sede da Secção Regional mas também de estruturas locais. (…)

 

Em traços gerais, quais as principais propostas com maior impacto na região do Alentejo do programa da Lista A?

A lista A pretende promover o papel do arquiteto na sociedade através de ações qualificadoras da atividade da Ordem, orientando-se por uma visão abrangente e integrada de associação pública profissional. Propomos uma Ordem presente na profissão, através da valorização da diversidade da profissão na região; apoio jurídico especializado; bolsas regionais de peritos, aumentando a empregabilidade. Uma Ordem presente no território, participando ativamente em políticas nacionais, regionais e locais, em parceria com autarquias e órgãos de soberania, numa proximidade que a nova estrutura da OA potencia; implementação de prémios municipais de arquitetura, valorizando a arquitetura como um ativo territorial para o seu desenvolvimento. Uma Ordem presente na sociedade, estando atentos aos apelos e às necessidades dos cidadãos, divulgando e promovendo as nossas competências nos meios de comunicação e nas atividades culturais e educativas, contribuindo para a melhoria do ordenamento do território e do ambiente construído.

 

O que diferencia, em termos programáticos, a sua lista das duas outras candidatas à Secção Regional do Alentejo?

Nós somos a lista que quer ser uma associação pública profissional que representa todos os membros de forma agregadora, perante a sociedade e perante as instituições. (…) 

 

De que forma a atual emergência sanitária, pela pandemia de covid-19, condicionou a atividade dos arquitetos?

Para além das condicionantes transversais aos diferentes setores, público e privado, a título de exemplo, o exercício da profissão ficou, em certos municípios, parcialmente condicionado nos primeiros dias, no que diz respeito à receção de projetos em formato impresso. No entanto, essa condicionante teve a vantagem de levar alguns municípios a modernizar os procedimentos na entrega de projetos para apreciação. (…)

 

Com a atual situação, há ou prevê-se que venha a haver mais desemprego e precariedade entre os arquitetos no Alentejo?

Ainda é prematuro fazer-se uma avaliação objetiva das implicações da atual situação na empregabilidade dos profissionais da arquitetura. No entanto, prevê-se que nos próximos anos o setor da construção possa vir a ser afetado pela diminuição do investimento público e privado, o que acarretará uma diminuição da procura de novos projetos. A concretizar-se, este facto poderá afetar em particular os ateliês de arquitetura ou arquitetos a exercerem por conta própria, que são os mais vulneráveis. Apesar de se prever a diminuição do investimento em novos edifícios, urge a necessidade de readaptação dos edifícios e cidades a esta nova realidade, ainda que incerta, no sentido de maior afastamento, maior higienização e alterações no uso do espaço público (agora mais condicionado). Isso constitui uma oportunidade para os poderes autárquicos repensarem as suas cidades, o espaço urbano e o rural. (…)

Luís Ferro, Lista B

“Contrariar o enorme afastamento

entre os arquitetos da região e a Ordem”

 

Como avalia as alterações na estrutura da OA, em particular a criação da Secção Regional do Alentejo?

A principal mudança irá ser, sem dúvida alguma, a proximidade que a OA passará a ter com os seus membros que residem e trabalham no Alentejo. Esta mudança, a nosso ver muito positiva, visa implicar e aproximar os arquitetos do Alentejo da OA e garantir uma maior presença e representação junto das estruturas de poder locais.

 

Em traços gerais, quais as principais propostas com maior impacto na região do Alentejo do programa da Lista B?

Entre muitas propostas que temos para a região e que podem ser consultadas no programa eleitoral, destacamos a intenção de contrariar o enorme afastamento que sentimos existir entre os arquitetos da região e a Ordem, através de três medidas principais: a monitorização da prática profissional com o objetivo de avaliar a prática profissional no Alentejo; o diálogo com o público geral sobre a prática da arquitetura e a divulgação da arquitetura produzida por arquitetos da região. Destaco também a proposta do serviço educativo do público mais jovem.

 

O que diferencia, em termos programáticos, a sua lista das duas outras candidatas à Secção Regional do Alentejo?

Vários aspetos, de entre os quais destacamos, novamente, o compromisso em aproximar a OA dos seus membros que residem e trabalham no Alentejo. Para tal, a candidatura à Secção Regional do Alentejo da Lista B é constituída por uma equipa de grande diversidade etária, geográfica e laboral. É maioritariamente jovem (com arquitetos entre os 30 e os 40 anos de idade, com cerca de 10 e 20 anos de experiência profissional) mas também inclui arquitetos mais experientes. Tem arquitetos que trabalham em gabinetes próprios, em câmaras municipais, em estabelecimentos de ensino e em unidades de investigação. Estão distribuídos pela região, com representantes em Arraiolos, Beja, Borba, Cuba, Elvas, Évora, Montemor-o-Novo, Portalegre, Reguengos de Monsaraz, Serpa, Sines e Vidigueira.

 

De que forma a atual emergência sanitária, pela pandemia de covid-19, condicionou a atividade dos arquitetos?

Sendo uma situação tão recente e sem precedentes, neste momento, é difícil prever a verdadeira grandeza dos efeitos da emergência sanitária na prática da arquitetura. No entanto, sabe-se que muitos arquitetos sentiram uma forte desaceleração no trabalho. De qualquer modo, esta situação tem vindo a demonstrar que é possível a comunicação à distância entre os arquitetos e a própria estrutura da OA, sugerindo formações certificadas por e-learning e até consultas jurídicas à distância de uma videochamada. No pós-pandemia, vai certamente haver muitas mudanças. De um dia para o outro, a qualidade do espaço público e do privado passaram a ser uma questão de saúde pública. Foram reacendidos os debates sobre o urbanismo das cidades, a habitação coletiva e, sobretudo, a relação de mútua reciprocidade entre o espaço público e o privado. Esperamos mudanças a muitos níveis. Para já, assistimos a uma grande transformação no próprio funcionamento da profissão, com os gabinetes de arquitetura a terem de se adaptar ao trabalho à distância. Mas são esperadas muitas outras mudanças em breve.

 

Com a atual situação, há ou prevê-se que venha a haver mais desemprego e precariedade entre os arquitetos no Alentejo?

Sim. À imagem da crise financeira de 2008, para já, os arquitetos receiam que a recessão económica que se aproxima possa provocar o encerramento de pequenas e médias empresas e, consequentemente, conduzir ao desemprego de muitos arquitetos de todas as faixas etárias.

Pedro Guilherme, Lista C

“A precariedade já antes existente

aumentou e agravou-se” no Alentejo

 

Como avalia as alterações na estrutura da OA, em particular a criação da Secção Regional do Alentejo?

A criação de uma nova secção regional é uma oportunidade e um dever de estar, servir e ouvir em maior proximidade todos os arquitetos do Alentejo, independentemente do seu modo de exercício da profissão (público ou privado). Reforçamos a oportunidade que a Secção Regional do Alentejo terá de responder às várias necessidades de apoio, formação e representação das aspirações dos arquitetos e a necessidade de aproximar a OA das instituições e organismos da região.

 

Em traços gerais, quais as principais propostas com maior impacto na região do Alentejo do programa da Lista C?

Pretendemos impulsionar a representação da classe junto às estruturas do Estado central, regional e local, propondo o envolvimento e a participação ativa e construtiva no planeamento, ordenamento e desenvolvimento do território, das cidades, da habitação e do ambiente, concertar estratégias, defender um acesso à contratação através de concursos públicos justos e equitativos que promovem a qualidade da arquitetura no Alentejo e promover o direito ao pagamento adequado dos serviços de arquitetura. (…)

 

O que diferencia, em termos programáticos, a sua lista das duas outras candidatas à Secção Regional do Alentejo?

A nossa lista é a única que se candidatou desde logo com um programa específico para a região com uma equipa diversificada que integra arquitetos de várias idades e género, vários modos e experiências profissionais distintas, e a exercer atividades em territórios diferentes, para que possamos contribuir para um entendimento holístico do ato profissional do arquiteto no Alentejo.  Como no fundo “Isto só lá vai com todos”, o programa que propomos assume a urgência de aproximarmos e unirmos em comunidade os arquitetos que habitam ou trabalham no Alentejo e que ajudam a desenhar, construir e valorizar este território de modo a consolidarmos e dinamizarmos a profissão e os arquitetos.   

 

De que forma a atual emergência sanitária, pela pandemia de covid-19, condicionou a atividade dos arquitetos?

Esta situação pandémica condicionou o setor da construção, a encomenda reduziu em face das incertezas do futuro e dos impactos socioeconómicos nas famílias e empresas, com o inerente impacto na diminuição de projetos e de licenciamentos, e introduziu dificuldades na execução da obra, disponibilidade de materiais, assistência técnica, direção de obra e fiscalização de obra. O confinamento propriamente dito foi um desafio para as equipas (de arquitetos e pluridisciplinares, porque a arquitetura não se faz sozinha!) e uma oportunidade de reinventar novos modos de trabalhar e novos modos de comunicar interna e externamente. Os arquitetos e as populações tomaram consciência dos problemas das cidades e da habitação, bem como das oportunidades de os resolver, que podem dinamizar uma inovação nos modos de habitar e desenhar as cidades. (…)

 

Com a atual situação, há ou prevê-se que venha a haver mais desemprego e precariedade entre os arquitetos no Alentejo?

Os arquitetos, tal como os alentejanos, sempre se confrontaram com muitas adversidades, mas o seu empenho, resiliência e capacidade de fazer muito com pouco permite-lhes encontrar “portas abertas” para inventar novas soluções. Não obstante, a precariedade já anteriormente existente aumentou e agravou-se, tornando-se imperativo apoiar as populações e as famílias para impulsionar o desenho de novas soluções para os problemas evidenciados pela pandemia e pelo confinamento nas habitações e cidades.

As eleições decorrem até 26 de junho.

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