Manuel Pires, que em conjunto com a mulher gere o bar da Artística, também tem ovelhas no outro lado da fronteira. Comprou os animais pouco antes de rebentar a crise da covid-19 e, neste momento, vê-se “com uma série de despesas às costas”, resultantes da multiplicação de quilómetros que tem de fazer para dar assistência ao rebanho. “É o desgaste da viatura, o gasóleo e os pneus. Recentemente foram 600 euros para quatro pneus”, contabiliza Manuel Pires, que considera os horários de reabertura da fronteira, agora decididos, incompatíveis com o trabalho no campo.
João Carlos Durão já está reformado e vive do lado de lá da fronteira. “Há mais de três meses que não vejo os meus pais e as minhas filhas”, lamenta. Para ele, a situação é ainda mais complicada porque vive na Extremadura e “a mobilidade em Espanha ainda está reduzida. Não posso sair de onde estou”. O governo espanhol já avançou com a data de 21 de junho para a abertura das fronteiras, mas, na opinião do português, “pode ser um perigo”. Apesar de viver numa região “onde não tem havido contágio nenhum”, na Extremadura espanhola o número de casos de covid-19 ascende a cerca de três mil, já tendo morrido mais de 500 pessoas.
Partidos pronunciam-se no parlamento
Pedro do Carmo, deputado do PS e presidente da Comissão Parlamentar da Agricultura e Mar, diz que “o encerramento da fronteira de Barrancos é prejudicial para um número significativo de trabalhadores e de agentes económicos com investimentos no lado espanhol”. O deputado socialista informou que tem havido contactos com Espanha, com vista a permitir “uma situação de exceção”, mesmo que seja noutros moldes.
O PCP, pela voz de João Dias, deputado eleito pelo distrito de Beja, questionou o Ministério da Administração Interna e “exige para Barrancos tratamento igual” ao que foi feito em Mourão. O deputado comunista diz compreender “a necessidade do fecho das fronteiras por questões sanitárias”, mas ressalva que Barrancos é um concelho “que já tinha dificuldades de isolamento e acessibilidades, com uma economia débil e que estabeleceu laços económicos e sociais com Encinasola”, o que o leva a acompanhar “as preocupações das populações” locais.