Diário do Alentejo

“O Alentejo (…) está presente nas cores, nas vivências e nos diversos sentires que os meus poemas, letras e crónicas revelam”

15 de dezembro 2023 - 10:07
Foto| CM Beja

Texto Luís Miguel Ricardo

Foto| CM Beja

 

Filha de pai minhoto e mãe alentejana, foi em Porto Peles, freguesia de Nossa Senhora das Neves, concelho de Beja, que, há 53 anos, nasceu para o mundo. De jornalismo e de rádio já leva 17 anos, todos eles ao serviço da emissora bejense “Voz da Planície”, e durante os quais, para além da elaboração de notícias, foi responsável por vários conteúdos, dos quais se destacam: “Falar Claro”, um programa semanal com um painel de três comentadores fixos sobre temas da atualidade; “Avós com Voz”, um programa realizado em parceria com o Centro Social Nossa Senhora da Graça, de Baleizão, e que, de acordo com uma classificação atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian, ficou entre os cinco programas, a nível nacional, considerados mais inovadores; “Radiografias – Conhecer, Capacitar e Empreender no Baixo Alentejo”, participando na elaboração de 35 programas sobre diversos temas de interesse para o desenvolvimento local; a moderação de várias conferências; e a colaboração, a nível local, com projetos de televisão. A escrita lúdica, poesia e contos, e a produção de espetáculos temáticos, em que divulga, em conjunto com o parceiro António Sérgio, a poesia e a música como reflexão sobre o mundo que nos rodeia, têm sido outras ocupações de vida. Ocupações que já valeram distinções: a vitória num concurso nacional de poesia, em 2018, do qual resultou a edição do livro Noites de Março; e o prémio, no escalão etário de adultos, “Versos Entrelaçados”, do município de Vidigueira, com o poema “O outro”, em 2017. Para além da obra referida, tem publicados dois poemas numa coletânea de poesia, e o poema “Longe”, publicado no livro do CD “A minha casa é uma pauta”.Ainda no âmbito das letras literárias, integrou o júri regional do Plano Nacional de Leitura, em 2017, e já fez parte, por duas vezes, do júri “Euroescolas”, concurso dinamizado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). É membro do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de Beja, participando em iniciativas relacionadas com a leitura e a sua promoção, entre elas, as “Palavras Andarilhas”. É membro da Assesta – Associação de Escritores do Alentejo. Colabora no blogue “Expoente M”.Eis, na primeira pessoa, a jornalista Ana Elias de Freitas e a autora literária Ana Fafe.

 

 

Começamos, justamente, por querer deslindar o que está por detrás do pseudónimo Ana FafeSou filha de um minhoto e Ana Fafe foi um pseudónimo escolhido para homenagear o meu pai, Albano Freitas. A minha irmã Maribela Freitas fez esta sugestão e ficou Ana Fafe, o nome da terra onde o meu pai nasceu.

Quando e como foi descoberta a vocação para as letras?Desde que comecei a conhecer as letras e quando a minha professora Celeste, na escola primária, elogiava a minha escrita. A professora Celeste foi a minha primeira referência. Depois foi descobrir poetas e escritores através da leitura. Na poesia, os meus mestres são Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Ramos Rosa e Fernando Pessoa. Saramago e Joseia Matos Mira são as minhas grandes referências nacionais no romance. Considero-me uma aprendiz da escrita, e incapaz de me comparar com os que admiro, e por isso falo em referências e não influências, pois para isso precisava de me considerar escritora e, neste momento, considero que não o sou. Quem sabe um dia!

 

Escrita jornalística, conto e poesia. Qual o registo de eleição? Apesar de ser jornalista e de ter na escrita a minha atividade diária, a poesia e o conto são os registos literários em que me revelo e, por isso, também os meus favoritos.

E como é conciliar a objetividade do jornalismo com a emoção e a subjetividade da poesia? Não concilio. Vivem em mim em mundos e momentos separados, sabendo, contudo, que um influência o outro, não na subjetividade, mas sim na sensibilidade como vejo e falo do que me rodeia. No jornalismo está o relato isento. Na poesia e no conto, a revelação das minhas fragilidades e vulnerabilidades, que me ajudam a ser melhor.

Que motivações e inspirações estão por detrás da escrita de Ana Fafe?As motivações surgem sempre dos momentos mais improváveis, mas todos estão na minha infância, na minha vivência pessoal e profissional e muito nas minhas utopias, na maneira como imagino e me vejo a mim e aos outros.

Para além da poesia e da escrita, experimentou mais alguma forma de arte? Tenho experimentado a pintura, mas de uma forma muito tímida e só para mim. É uma linguagem artística que muito aprecio, mas ainda longe de ser revelada. Cantar e contar contos em público têm sido outras experimentações nos últimos tempos, mas ainda em desenvolvimento e distantes do que pretendo.

Que importância tiveram as distinções literárias para o surgimento da Ana Fafe?O meu verdadeiro prazer é escrever e partilhar. Considero que mais tarde ou mais cedo acabaria por acontecer, mesmo que fosse com publicações de autor. Assim, digamos que as distinções anteciparam a publicação.

Noites de Março. Que livro é este? O Noites de Março foi o meu primeiro parto e revela as minhas “muitas maternidades, dos filhos e das terras que habito”. Estas palavras não são minhas, são do poeta de Beja Martinho Marques, que assina o prefácio do livro. O livro que tem na capa um desenho de António Paizana, também ele a ilustrar nascimento.

Que papel desempenha o Alentejo na produção literária de Ana Fafe?Na produção literária de Ana Fafe, o Alentejo desempenha o papel principal, e está presente nas cores, nas vivências e nos diversos sentires que os meus poemas, letras e crónicas revelam.

Qual a opinião sobre o universo literário em Portugal? Nunca tive a preocupação de avaliar com detalhe este universo. Até aos 47 anos de idade, não partilhei, com ninguém, o que escrevia. Só depois desta altura comecei a mostrar, a avaliar e a candidatar-me a concursos. O universo literário em Portugal não é fácil, tenho essa consciência. Quanto aos novos valores, eu considero-os muitos e bons, particularmente, na poesia, em que se assiste ao surgimento de gente bem jovem a escrever e a publicar. Isso faz-me ter uma visão otimista do presente e do futuro nesta área.

E o acordo ortográfico?Por motivos profissionais, tive de me adaptar ao novo acordo ortográfico e hoje já não me vejo a escrever ou a pensar como o fazia antes de o utilizar. Tenho em mim que tudo muda, evolui, e isso aplica-se à escrita, tal como a todos os setores da vida. As línguas não são estanques e a nossa tem sofrido várias transformações ao longo dos tempos. Esta é só mais uma.

Que sonhos literários moram em Ana Fafe?Na Ana Fafe mora o sonho de publicar o segundo livro de poesia com ilustrações/pinturas feitas por si e, acima de tudo, existe o sonho de poder dedicar os meus dias à escrita, à poesia e aos contos. Seria a perfeita tranquilidade.

O que está na “manga”?Na manga, a Ana Fafe tem vários projetos, alguns em curso e outros apenas na cabeça. Que possa revelar, existe um: sou mãe de duas mulheres e tenho, em final de gestação, “os meus meninos”, que já têm nome e que estão prontos há alguns meses. Este seria o livro que gostaria de publicar em breve. O segundo parto terão de ser os contos, para depois voltar à poesia, que está em andamento, também, faltando, contudo, a pintura e outros pormenores.

Comentários