Diário do Alentejo

À Mesa: Palmeira é sinonimo de migas

31 de março 2022 - 11:30

Texto António Catarino

 

A Ordem de Avis terá estado na origem de Cabeção, povoação situada a uma dezena de quilómetros de Mora. Sede de concelho durante mais de quatro séculos, Cabeção é um dos vértices do triângulo formado pelo Fluviário, uma das atrações daquela vila, e o parque ecológico do Gameiro. Noutro plano, Cabeção é um nome com projeção internacional em consequência da realização dos campeonatos de pesca desportiva, que têm como palco a pista da ribeira da Raia.

 

Em pleno Alentejo, Cabeção, onde ainda se faz vinho de talha, alonga-se por um cabeço onde, lá no alto, o restaurante A Palmeira tem porta aberta há três décadas e meia. A palmeira já não está lá, tendo desaparecido com o alargamento da sala, muito antes da praga que tantos exemplares dizimaram. Todavia, o restaurante, que prima pela simplicidade, ocupa o piso térreo de uma construção com andar superior, é conhecido pela cozinha regional.

 

Sobre a mesa, o bom pão alentejano, azeitonas e dois pratinhos com irrecusável conteúdo: torresmos de rissol e espargos com ovos mexidos e camarão. Um começo prometedor, que teve continuidade com uma das mais conhecidas e apreciadas especialidades da casa: migas de espargos com carne de porco frita. Mereceu loas este prato feito com inequívoco saber: apurada confeção, as migas muito bem ligadas e sem gordura excessiva, apenas a necessária para dar um sabor especial; a carne bem temperada, bastante tenra, a desfazer-se na boca.

Boa nota mereceu também o borrego assado no forno, mas podem surgir outras opções: ensopado ou costeletas grelhadas. Os pratos regionais estão em maioria: pezinhos de coentrada e a carne de porco do alguidar com migas de batata são alguns dos mais emblemáticos. Lombo de porco assado com esparregado; plumas e secretos de porco preto grelhados; febras recheadas com presunto e queijo ou migas de tomate com entrecosto grelhado alargam a possibilidade de escolha. Os pratos de caça, em particular na época, -- ensopado de lebre, com feijão ou arroz de pombo bravo – e a sopa da panela de pombo bravo ganharam estatuto de especialidades. Quanto a pratos de peixe, destaque para as migas gatas com bacalhau à alentejana, entre propostas na grelha e espetada de lulas com gambas.

 

Para sobremesa, a dificuldade está na escolha: a doçaria conventual alentejana está bem representada e não falta a sericá – como se pronuncia por aqueles lados - com ameixa.

 

Garrafeira com predominância de referências alentejanas.

 

Serviço simpático.

 

Em Cabeção, A Palmeira resiste sem perder viço.

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