Diário do Alentejo

Á Mesa: O Cortiço na Nacional 2

14 de dezembro 2021 - 09:40

Texo António Catarino

 

É uma estrada que nem sempre é Nacional – tem apenas 180 quilómetros com esse estatuto; a maior extensão é classificada como regional, mas entre Almodôvar e S. Brás de Alportel é “Estrada Património” – e atravessa 33 municípios, a maioria irmanados pela associação criada para tornar esta rota mais turística. A Nacional 2, a terceira estrada mais extensa do mundo, liga Chaves a Faro através de um percurso de 738,5 quilómetros, e apenas é superada pela norte-americana Route 66 e pela argentina Ruta 40.

 

Concebida para ligar o País de norte a sul, “rasgando” Portugal pelo meio, a Nacional 2 só nos últimos anos voltou, felizmente, a estar no mapa dos viajantes. A redescoberta das belezas e da diversidade de um país demasiado inclinado para uma estreita faixa litoral, consequência de continuadas políticas desastrosas que vão despovoando o interior, deve-se em grande parte a esta rodovia concebida em 1945 e que está na moda.

 

O concelho de Montemor-o-Novo é atravessado em apreciável extensão pela Nacional 2. Na simpática aldeia de Fazendas do Cortiço, ao quilómetro 514, junto à estrada e com largo espaço para estacionamento e esplanada resguardada dos maus humores atmosféricos, há um local de boa mesa para pausa na viagem ou na labuta diária.

 

O restaurante O Cortiço, casa de igual modo muito apreciada pela componente petisqueira que oferece, destaca-se pela simplicidade do confortável espaço, dividido por duas salas e onde a ementa está afixada na parede.

 

Saltam à vista a predominância das sugestões de carne, que emparceiram com os pratos mais tradicionais do receituário transtagano, avultando a açorda e a tão apreciada sopa de cação. Neste capítulo, minoritário em termos de opções face aos pratos de carne, mais substanciais, destacam-se o bacalhau à casa, chocos grelhados ou fritos e os arrozes de marisco ou de tamboril.

 

Algumas sugestões expressas na lista exigem menor apuro culinário e maior rigor na grelha, nomeadamente, febras, entrecosto, entremeada, picanha e lombinhos de porco, figurando o bife de novilho e os miminhos à Cortiço como alternativas relevantes. No mesmo capítulo de preferências situam-se as costeletas de borrego e as espetadas de lombinhos com gambas, mas a opção foi a carne de porco alentejano: entre secretos e abanicos, escolhemos estes últimos, com acompanhamento de migas de espargos. Aliás, as migas são consideradas, muito justamente, uma especialidade da casa. Para além de espargos, há migas de coentros e de bolota, o que é pouco comum face ao desuso deste fruto na alimentação humana.

 

A escolha foi acertada: a carne de grande qualidade estava no ponto certo, tenra e plena de sabor; as migas revelaram grande nível em termos de confeção: apresentaram-se bem ligadas, sem gordura excessiva, muito saborosas e justificaram, em absoluto, nota elevada.

 

As sobremesas honram a tradição conventual alentejana e a garrafeira apresenta vasto número de referências regionais de bom nível.

 

Serviço marcado pela simpatia e eficácia em O Cortiço, a uma légua de Montemor-o-Novo, seguindo pela Nacional 2. Uma casa com cozinha competente e alma alentejana.

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