Texto António Catarino
A simplicidade dos lugares encontra, muitas vezes, correspondência na qualidade da cozinha, feita à base de ingredientes regionais. O viajante que segue, apressado, pelo IP2, entre Portalegre e Estremoz, mal dá conta do cabeço arredondado que, a meio daquele percurso, surge à margem da rodovia.
É uma colina de base rochosa, um monte forte, coroado pelo que resta de um velho castelo. É Monforte, a vila alentejana que se destaca no horizonte moldado por campos salpicados de sobreiros e de azinheiras.
Mais em baixo, uma ponte medieval, construção que remonta ao século XIV - há quem defenda ser de origem romana a primitiva forma - é referência nas proximidades do terreiro povoado por três igrejas, A meio da encosta, os templos de Nossa Sr.ª da Conceição, o mais antigo; Calvário e S. João Batista são os vértices de um curioso triângulo desenhado como um dos símbolos da vila.
No acesso a partir do IP2, não se torna difícil encontrar a Tasca da Calçadinha, restaurante sem grandes luxos. É mesmo uma casa simples, um espaço com ambiente e gestão familiar com uma cozinha que privilegia os sabores da comida alentejana. Rica pela diversidade e aromas, elaborada à base de ingredientes da região, a maioria sazonais.
Uma cozinha simples e caseira, que aconchega o estômago, seja através das ditas especialidades da casa - ensopado de borrego e cozido à portuguesa - ou de outros pitéus de essência alentejana.
A galinha de tomatada é um deles; outro, o feijão com mogango, a abóbora cor de laranja que pode ser assada no forno ou utilizada nos fritos tradicionais de Natal. As túberas, as trufas alentejanas, que crescem junto à base dos sobreiros desde fevereiro até aos primeiros dias da primavera, quando surgem, são outro petisco muito saboroso.
No dia-a-dia, as opções são variáveis: na lista, podem surgir sopa de cação ou de tomate ou de beldroegas ou carpa frita com molho de poejo. Outras opções mais substanciais podem igualmente figurar na lista: feijoada de chocos; língua estufada; mão de vaca com grão; bochechas de porco estufadas; omeleta de espargos; e cozido de grão.
Nas sobremesas, a doçaria alentejana remata com toda a dignidade uma refeição bem acompanhada com um dos vinhos de produtores da região, à altura da comida caseira, simples e muito saborosa da Tasca da Calçadinha, em Monforte.