Diário do Alentejo

Vinhos: DOC e Indicação Geográfica. Unidade e diversidade do Alentejo

08 de julho 2021 - 14:45

Texto Manuel Baiôa

 

As primeiras denominações de origem alentejanas só foram regulamentadas em 1988. Nessa altura privilegiaram-se as zonas que tinham maior tradição e concentração de vinhas e os locais onde estavam instaladas as adegas cooperativas. O Alentejo é uma região vinícola enorme, com características diferenciadoras ao nível do clima, dos solos, da altitude, da latitude, da exposição solar, da distância do mar, das castas e do fator humano. Contudo, existem grandes similitudes nos territórios produtores de vinho e que são percecionadas pelos consumidores como pertencendo à região do Alentejo. Por isso, avançou-se para a Denominação de Origem Alentejo com o objetivo de preservar a identidade desta região, na qual estão incluídas as seguintes oito sub-regiões: Portalegre, Borba, Redondo, Reguengos, Vidigueira, Évora, Granja-Amareleja e Moura.

 

Os produtores podem certificar o seu vinho como DOC Alentejo ou como DOC de uma das oito sub-regiões. Neste último caso os respetivos vinhos têm de ser obtidos com a utilização exclusiva de uvas produzidas e vinificadas nas respetivas áreas geográficas.

 

DOC ALENTEJO

 

A sub-região DOC Portalegre compreende uma parte dos concelhos de Portalegre (excluídas as áreas de altitude superior a 700 m), Castelo de Vide, Crato e Sousel. As vinhas mais emblemáticas desta sub-região encontram-se na serra de São Mamede numa altitude superior aos 500 metros. Estas vinhas beneficiam da localização em altitude, pois o clima é mais arejado e húmido, proporcionando vinhos frescos e elegantes, dando a esta sub-região grande originalidade e caráter.

 

A sub-região DOC Borba é a segunda maior do Alentejo. Localiza-se ao longo do eixo que une Estremoz, Borba e Terrugem (Elvas), estendendo-se ainda para parte dos concelhos do Alandroal, Monforte e Vila Viçosa. É talvez a sub-região que melhor consegue reunir os diversos estilos dos vinhos alentejanos, mostrando todas as ‘nuances’ em torno das castas e dos solos.

 

A sub-região DOC Redondo é marcada pela Serra d´Ossa, um dos maiores acidentes orográficos do Alentejo. Eleva-se a cerca de 600 metros de altitude, resguardando as vinhas a norte e a nascente. Os vinhedos estão instalados em encostas suaves com a predominância de exposição a sul. Os invernos são frios e relativamente secos e os verões quentes e ensolarados. Esta sub-região compreende ainda algumas freguesias dos concelhos vizinhos de Évora e do Alandroal. Os solos são marcados por afloramentos graníticos e xistosos dispostos em encostas suaves.

 

A sub-região DOC Évora compreende uma parte dos concelhos de Arraiolos, Montemor-o-Novo e Évora. Esta sub-região foi o berço de alguns dos grandes vinhos alentejanos do século XIX. Depois de algumas décadas de algum apagamento, renasceu nos anos 80 do século passado, passando a apresentar novamente vinhos de grande qualidade. A paisagem é dominada pela peneplanície e pelos solos mediterrânicos pardos e vermelhos, numa paisagem quente e seca.

 

A sub-região DOC Reguengos compreende partes dos concelhos de Évora e Redondo e a totalidade do concelho de Reguengos de Monsaraz. É a maior e a mais produtiva das sub-regiões do Alentejo. O clima é continental/mediterrânico com invernos frios e verões extremamente quentes, originado maioritariamente vinhos encorpados e poderosos.

 

A sub-região DOC Granja-Amareleja estende-se pela totalidade do concelho de Mourão e por uma parte do concelho de Moura, delimitada pelo Rio Guadiana e pela fronteira com Espanha. Tem um dos climas mais áridos e quentes de Portugal e com mais horas de sol. As terras são muito pobres e a falta de água e de matéria orgânica provocam produções e rendimentos baixíssimos. Estas condições adversas originam vinhos de grande personalidade e caráter local, onde a casta Moreto, bem adaptada a este contexto, tem um papel primordial. Esta sub-região é reduto de algumas das vinhas mais velhas do Alentejo, reservas únicas de clones e variedades hoje quase perdidas.

 

A sub-região DOC Moura compreende parte dos concelhos de Serpa e de Moura. O clima revela uma forte tendência continental, com influência mediterrânica, com amplitudes térmicas dilatadas, invernos frios e verões tórridos, secos e prolongados. Os solos são pobres, mas os afloramentos argilo-calcários originam vinhos de grande qualidade, com um perfil quente e macio.

 

A sub-região DOC Vidigueira estende-se pela totalidade dos concelhos de Alvito, Cuba e Vidigueira e é delimitada a norte pela Serra do Mendro e a leste pelo Rio Guadiana. O clima desta região é condicionado pela morfologia acidentada da Serra do Mendro (424 metros), de orientação este-oeste. Por isso, apesar da localização tão a sul, é uma das sub-regiões de clima mais suave do Alentejo. Os solos muito diversificados dão um contributo importante para criar vinhos frescos e com grande mineralidade. Esta região ganhou fama pelos seus vinhos brancos, mas nos últimos anos destacaram-se também os tintos, onde a casta local, Tinta Grossa, pode vir a desempenhar um papel mais importante.

 

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

 

Considerou-se que estas sub-regiões eram as mais tradicionais e aptas a produzir vinho DOC Alentejo. No entanto, existem outras zonas no Alentejo com aptidões para produzir excelentes vinhos. Assim, foi criada a Indicação Geográfica Alentejano / Vinho Regional Alentejano que cobre a totalidade dos distritos de Portalegre, Évora e Beja, permitindo aos produtores maior liberdade em termos de castas (mais de 30 castas tintas), rendimento por hectare, teor de álcool e localização das vinhas. Apesar das diferenças regionais vincadas, considerou-se que existem inúmeros traços comuns nos vinhos da grande peneplanície alentejana que justificam esta classificação regional. Por outro lado, os produtores que estão inseridos dentro da DOC Alentejo podem produzir vinho de Indicação Geográfica Alentejano / Vinho Regional Alentejano quando querem ter maior liberdade e flexibilidade.

 

O FUTURO DAS SUB-REGIÕES DOC

 

No futuro, as várias sub-regiões DOC deverão ser mais valorizadas, com os produtores a reivindicar e comunicar a sua identidade nos rótulos das garrafas. Nesse sentido, à semelhança do que acontece noutras grandes regiões vitivinícolas do Mundo, poderá valer a pena equacionar desdobrar e multiplicar as oito sub-regiões existentes.

 

A sub-região de Portalegre poderia dividir-se em duas: Serra de São Mamede (autorizando as vinhas de altitude acima dos 700 metros) e Portalegre; Borba arriscaria repartir-se entre Estremoz (zona onde estão presentes alguns dos mais famosos e prestigiados produtores do Alentejo) e Borba; Moura poderia dividir-se em duas: Pias e Moura. Sublinhe-se que os vinhos de Pias beneficiam de um caráter muito próprio a que se junta uma notoriedade significativa em todo o país. A elevação de Pias a DOC iria proteger a região, e os produtores aí sedeados, da quantidade de vinhos de baixa qualidade que proliferam, a maior parte deles oriundos de outras zonas do País ou mesmo do estrangeiro, que usurpam o nome de Pias.

 

Dado o crescimento, a identidade e qualidade de algumas novas áreas, poderia avançar-se para a criação das sub-regiões de Beja-Albernoa e da Costa Vicentina.

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