Diário do Alentejo

A Escola, de Cachopos, em lugar cimeiro do ‘ranking’

25 de janeiro 2021 - 09:30

Texto António Catarino

 

Pelo meridiano de Alcácer do Sal, sob a protetora copa do vasto pinhal que se despede do espreguiçado e dolente Sado nas imediações da velha Salatia, a fuga até ao oceano é um imperativo, mal o tempo aquece. A meio caminho entre Alcácer e a Comporta, seguindo pela Estrada Nacional 253, uma antiga escola primária, construída de acordo com o chamado “plano do centenário”, alberga restaurante que se tornou referência.

 

Regressemos, pois, à Escola – assim se chama o restaurante – para apreciarmos as lições de mestre Henrique Galvão, cujo talento pintou, ao longo de quase 20 anos, letra a letra, o sucesso de um espaço que nos transporta aos tempo da meninice. Lá estão o quadro negro e os velhos mapas, recordação dos tempos em que havia cachopos na escola de Cachopos, fechada em 1982.

 

Em vez de carteiras, há agora mesas cobertas com toalhas e guardanapos em tecido, pratos e talheres de boa qualidade, simpatia a rodos. À mesa, os mais velhos estudam aliciante ementa, enquanto saboreiam, como entradas, um coelho de coentrada ou linguiça frita, e os petizes brincam no recreio.

 

Com o Sado ali tão perto, as enguias fritas com arroz malandrinho de couve, feijão e cenoura ou com açorda de tomate são pitéu irresistível; mas, a posta de cherne à barqueiro, frita e com molho de camarão e ameijoas, não lhe fica atrás. O ensopado de cherne é alternativa a condizer. Imperdível é a empada de coelho bravo com arroz de pinhão, um dos pratos icónicos da casa. A carne do coelho é desfiada com ervas aromáticas e envolvida numa massa de pão muito fina, que vai ao forno e é servida acompanhada com arroz, muito seco, de pinhões, uma das riquezas da região.

 

Cachaço de porco preto; perdiz na púcara e nabiçada de pombo bravo são outros pratos ditos históricos desta Escola com ‘numerus clausus’, aos fins de semana e, claro, no verão, tantos são os candidatos a um lugar à mesa.

 

Nesta escola alentejana, o terceiro ciclo, tão gostoso como os anteriores, reserva ainda surpresas, o que torna complicada a escolha entre o doce da casa, com pinhões e doce de ovos ou, por exemplo, morgado de figos, encharcada ou bolo fidalgo.

 

O vinho da casa, de qualidade maior e a preço muito razoável, e o labor dos auxiliares do professor Henrique, ajudam a colocar esta Escola em lugar cimeiro no ‘ranking’ nacional. Brinde-se, então, com licor de bolota, servido numa cabaça, a esta casa de tantos saberes e sabores.

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