Diário do Alentejo

Um dia, as paisagens do Alentejo “só poderão ser admiradas em museus”

21 de junho 2020 - 23:15

MANUEL CARVALHO, 60 ANOS

É técnico da Câmara Municipal de Vidigueira, na área sociocultural, e desenvolve trabalhos relacionados com desenho, pintura, fotografia e cerâmica, utilizando várias técnicas e suportes. É autor dos prémios da revista Mais Alentejo e Bienal de Artes da Vidigueira e dos livros de fotografia “Vidigueira Luz Mágica da Cor” e “Da Vinha ao Vinho”. Tem sido galardoado com diversas distinções e participou em inúmeras exposições individuais e coletivas.

 

Texto José Serrano

 

Além Daquela Janela é o título da exposição fotográfica online autoria do fotógrafo vidigueirense Manuel Carvalho. Uma mostra de 35 imagens, que retrata paisagens rurais do Alentejo e que pode ser visitada na página de Facebook da Câmara Municipal de Vidigueira (https://www.facebook.com/municipiovidigueira).

 

 

O que une este conjunto de 35 imagens que agora expõe online?

Em tempo de pandemia a natureza seguiu o seu percurso normal, foi esse o caminho que tentei traçar. Durante dois meses fui sendo surpreendido por recantos e paisagens que se transformavam a cada trovoada que passava, por montes abandonados com a taipa à flor da pele, por pastores a saírem com o seu gado para o campo. São estes os principais pontos que nos conseguem prender e fazer viajar através de um ecrã.

 

Constitui esta exposição uma resposta à situação adversa que vivemos?

Certo, foi isso mesmo. O principal motivo por tudo isto acontecer foi o confinamento. Por ser fotógrafo e gostar de fotografia de natureza não conseguia estar fechado em casa. Sem pôr ninguém em perigo fiz várias saídas de campo e recolhi mais de mil imagens. Comprovei que a vida não para e que a natureza consegue renovar-se a cada dia que passa. Há mais vida para além da nossa.

 

Podemos dizer que esta mostra é, de alguma forma, a sua conceção poética do Alentejo?

É inexplicável a paixão com que estas fotografias foram tiradas. Não sou poeta mas tenho pena de não o ser, pois há momentos em que a fotografia não chega para explicar as emoções sentidas.

 

 

Da paisagem alentejana o que é para si mais difícil fotografar?

Quando se conjuga a luz, a criatividade e a motivação as coisas acontecem. Depois há o outro lado: a destruição das paisagens, dos habitats e dos ecossistemas, a presença das culturas intensivas e a monocultura, a poluição visual, tudo motivos para que se perca o ânimo pela fotografia de natureza. Mas há que fotografar esta realidade, nem que seja para despertar consciências. Um dia, paisagens como as da exposição só vamos conseguir admirá-las em museus.

 

O que gostaria que estas imagens transmitissem aos visitantes da exposição?

Gostava que fizessem refletir sobre a importância da preservação dos valores naturais do Alentejo. A região está a atravessar um período crítico, em nome do desenvolvimento não se olha a nada, todos os dias são destruídos patrimónios que nunca voltarão a ser recuperados. Será que as gerações vindouras não nos irão cobrar por tudo o que está a acontecer?

 

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