Diário do Alentejo

Crónica de Né Esparteiro: "Longa Pétala de Mar"

21 de junho 2020 - 23:00

Quando, na década de 80 do passado milénio, conheci pela primeira vez o nome de Isabel Allende, a escritora sul americana nascida no Peru, mas que passou a infância e adolescência no Chile, apaixonei-me pela sua Casa dos Espíritos, um romance que deu posteriormente origem a um filme, parcialmente rodado em Portugal, na costa alentejana.

 

Desde aí, segui fielmente a escritora ao longo das várias décadas da sua carreira, e revivi a infância com a trilogia As memórias da Águia e do Jaguar, galardoada com o Prémio Hans Christian Andersen, chorei copiosamente a morte da sua filha, no romance parcialmente autobiográfico Paula, ou vibrei com os amores de O Amante Japonês, uma intensa história de amor que resiste ao passar dos anos e à distância.

 

Já em 2019, foi lançado mais um romance da escritora, Longa Pétala de Mar, uma viagem inolvidável pela história do passado século na vizinha Espanha, acompanhando os anos da guerra civil, o deflagrar da II Guerra Mundial ou, em agosto de 1939, o zarpar do navio Winnipeg contratado pelo poeta e diplomata chileno Pablo Neruda, o renascer da vida do outro lado do oceano e os acontecimentos relevantes que marcaram a história desse país longínquo, o Chile, que recebeu os exilados fugidos à ditadura franquista.

 

Longa Pétala de Mar centra-se na história de dois jovens catalães, Roser Bruguera e Víctor Dalmau que, resistindo às maiores agruras em Espanha, durante a guerra civil e, posteriormente, em França, enquanto refugiados num campo, conseguem ultrapassar inúmeros obstáculos até que embarcam no navio Winnipeg, fretado por Neruda para conduzir mais de dois milhares de imigrantes espanhóis ao outro lado do mundo, a um país da costa leste da América do Sul, o Chile, essa “longa pétala de mar”, como o designou o poeta.

 

Neruda entrega, aos refugiados espanhóis, um folheto onde se lia: “Talvez de toda a vasta América, o Chile vos pareça a mais longínqua das nações. Assim o foi também para os vossos antepassados… “

 

No Chile são recebidos como heróis, e alguns chilenos prontificam-se a ajudar os recém-chegados. Rosa e Víctor integram-se com relativa facilidade no país que os acolheu, ele, como futuro médico, ela, como pianista. Até que, alguns anos mais tarde, a situação política do Chile muda drasticamente, após o golpe militar que aniquilou Salvador Allende, o presidente da república, e colocou no seu lugar o ditador Pinochet.

 

Mais uma vez Victor, sem ser político, se vê envolvido nas teias do poder – era o parceiro de xadrez do antigo presidente! – e é obrigado a procurar refúgio político, desta vez na vizinha Venezuela. E a história prossegue, trazendo novos intervenientes que conduzirão ao culminar da história, pois, como refere a autora, “se vivermos o suficiente, todos os círculos se fecharão”.

 

Vale a pena aventurarmo-nos por mais este romance da consagrada autora, galardoada em 2010 com o prémio nacional de literatura chileno. Boas leituras!

Comentários