Diário do Alentejo

“É importante continuar em frente, a pôr música cá fora”

03 de junho 2020 - 16:10

Com uma sonoridade que conjuga a pop, o hip-hop e o rhythm and blues, Midnight Ambassador, pseudónimo (aka) de André Graça que já atuou em festivais internacionais de música como Camden Rocks Festival, Indie Week UK ou Canadian Music Week, lançou este mês o single “Mirror”.

 

Texto José Serrano

 

O que reflete este seu “Mirror”?

Quando estava a escrever o “Mirror”, o quarto onde vivia era quase todo espelhado. Nessa altura da minha vida ainda me estava a adaptar à minha mudança [ida para Londres] e estava a trabalhar a tempo inteiro, muitas horas por dia, a fim de poder continuar a fazer música. Por passar imenso tempo a trabalhar e por viver num apartamento com pessoas que não conhecia sentei-me no piano e comecei a falar comigo mesmo em frente ao espelho. Assim surgiu este tema, como que um desabafo.

 

Lança este single num período conturbado, de pandemia. Este trabalho é um sinal de resistência aos dias que vivemos?

Tínhamos programado lançar este single há já alguns meses, antes do início da pandemia. Perto da data de lançamento considerámos adiar, mas acho que neste momento é importante continuar em frente, a pôr música cá fora.

 

Pode a adversidade ser propícia à criação ou é apenas e só nefasta?

Este vírus fez-me apreciar o tempo que tenho, sem metros, autocarros, estando simplesmente em casa, rodeado de instrumentos. Mas a criação tem sido difícil porque eu inspiro-me em histórias que vivo e agora as vivências estão limitadas ao quotidiano doméstico. Aproveito esta quarentena para, fazendo uma pausa na criação, aprender um instrumento novo. Vou dando apenas um passo de cada vez esperando o dia em que tudo regresse ao normal. No entanto, considero que muitas vezes os problemas com que nos deparamos na vida são momentos de crescimento e que podem conduzir à criação. Algumas das minhas músicas surgiram no decurso de situações problemáticas que vivi.

 

A viver atualmente em Londres como perspetiva a situação futura dos criadores estrangeiros na capital londrina, depois da saída do Reino Unido da União Europeia e após a covid-19?

Quando esta saída começou a ser ponderada, uma das questões que foi levantada relacionava-se com a forma de operacionalizar o modo como os pequenos músicos poderão ganhar dinheiro a viajar com as suas bandas. Infelizmente ainda ninguém sabe responder, concretamente, a essa pergunta, mas espero que não haja muita dificuldade, porque regressar a Portugal tem sido importantíssimo para o crescimento do Midnight Ambassador.

 

Onde gostaria de atuar a primeira vez depois da normalidade social regressar?

Quando tudo isto começou estava a preparar-me para ir fazer concertos a Beja, a minha casa. Ainda planeio que esse seja o primeiro lugar onde vá, depois de esta situação terminar.

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