Diário do Alentejo

À Mesa com António Catarino: Hortinha viçosa em Beringel

03 de junho 2020 - 15:00

Nas fecundas terras de barro, que dão cor aos campos que se estendem ao redor da capital do Baixo Alentejo, Beringel, sede de concelho até 1855, é uma das mais castiças freguesias bejenses. Famosa pela olaria, chegou a ter, em meados do século passado, cerca de 60 artífices, mas só um resiste nos dias de hoje.

 

A meio caminho entre Ferreira do Alentejo e Beja, refrescada pelo espelho de água da albufeira da barragem do Pisão, Beringel tem Hortinha onde se come bem. Restaurante moderno, construído de raiz no local onde existiram, durante anos a fio, as velhas bombas de combustível da localidade, que recebeu foral de D. Manuel I, é um espaço particularmente agradável.

 

Sala ampla, com balcão à direita de quem entra – no lado contrário, há uma sala que funciona como café-bar – pé alto, paredes em branco com decoração mínima. Mesas com toalhas em pano cobertas com papel, cadeiras confortáveis. Bom ambiente. Um pátio, bem alentejano, serve como agradável esplanada e revela-se excelente complemento ao restaurante que abriu portas vai para meia dúzia de anos.

 

Na mesa, o inimitável pão alentejano e azeitonas podem ter a companhia de saborosos cogumelos recheados com alheira ou de outras entradas regionais: ovos com espargos; queijos curado de ovelha; linguiça ou paio de porco ibérico fatiados; cogumelos grelhados.

 

Nos pratos de peixe, a escolha do dia recaiu na caldeirada do mar, com safio, raia e pata roxa, servida num tacho de barro, com fatias do bom pão alentejano. Dose farta, peixe fresco, bom tempero e sabor, justificou a opção feita. Outras escolhas: choco frito; barriga de atum grelhada; lulas salteadas com coentros e alho; camarão frito com alho e limão; açorda de marisco e cataplana de bacalhau ou de porco ibérico com camarão.

 

Mais vasto, o capítulo de carnes oferece, para duas pessoas, rodízio de porco ibérico, acompanhado com migas, puré de maçã, esparregado e batatas fritas às rodelas; costeletas de borrego; maminha com abacaxi; migas e terra/mar, com carne de porco preto e camarão tigre grelhado. Abanicos e lagartos de porco alentejano não podiam faltar na lista, onde figura ainda o naco de vitela. Como acompanhamento, esparregado de espinafres; arroz de ervas aromáticas, migas ou salada mista.

 

Nas sobremesas, brilha o requeijão em três declinações: com mel e canela; tarte e bolo. Outra opção a ter em conta: pudim de leite condensado com amêndoa.

 

Garrafeira razoável, com natural predominância das referências alentejanas. O vinho branco, da casa, harmonizou refeição deveras agradável neste restaurante, com serviço muito simpático e que é a 'menina dos olhos' de Ricardo Horta, um jovem chefe alentejano que regressou às origens após muitas andanças por essa Europa.

 

Mais do que uma história de amor ao Alentejo, o Hortinha tem elevada qualidade a preços muito razoáveis.

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