Diário do Alentejo

João Margalha: Basquetebol

23 de janeiro 2020 - 12:00

“O basquetebol foi uma paixão que sempre tive. Costumo dizer que é algo de que temos mesmo de gostar e depois torna-se um vício. O meu vício pela modalidade foi adquirido na Escola Secundária Diogo de Gouveia, com o antigo professor Bandeira, que na época lecionava educação física. Quem gosta de basquete, gosta para o resto da vida. Fui sempre apaixonado pelo basquete. Quando estive em Coimbra pratiquei ao nível universitário, com jogadores como Augusto Baganha e outros”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 

João Margalha é uma figura incontornável do basquetebol na cidade de Beja. Antigo jogador, técnico, dirigente, hoje presidente da direção do Beja Basket Clube (BBC), é um dos pilares sobre os quais assenta a prática desta modalidade.

 

Nasceu em Beja há 63 anos. “Nasci em casa, ali mesmo ao pé do arco da Mouraria. Sou do tempo em que se nascia em casa”. As ruelas estreitas, que se abrem entre a alvura do casario, ainda hoje lhe avivam recordações. “A Mouraria é um bairro muito interessante, lembro-me de andar por ali e por outras zonas típicas da cidade, tive uma infância assim”. Depois, há amizades que ficam para a vida, que são eternas. “Lembro-me muito de um amigo de infância, muito querido, Joaquim Figueira Mestre, já falecido, que foi diretor da Biblioteca Municipal de Beja. Íamos a uma coisa que se chamava ‘escola paga’, que terá sido, se calhar, percursora dos infantários”.

 

João Margalha recorda vivências interessantes e assume a sua ligação muito estreita e intensa à sua cidade, de onde esteve ausente durante cinco anos, quando estudou em Coimbra. Dos tempos académicos recorda “aquelas rivalidades entre o Liceu e a chamada Escola Industrial”. Depois, na faculdade, foi parar a Coimbra, “quase por mero acaso”. “Tinha um tio que, na altura, era lá professor universitário e a minha mãe, talvez para me proteger, colocou-me em casa desse meu tio”. E aí, à beira do Mondego, se habilitou com o curso de Engenharia Civil. “Foi uma opção. Sempre me interessei muito por construir coisas, foi um passo natural”.

 

Concluída a licenciatura, era o momento de regressar à cidade de que tanto gosta, mas, na hora da despedida, Coimbra tem mais encanto. “Coimbra, para mim, continua a ter esse encanto. É uma cidade que guardei no coração para o resto da vida, assim como as vivências e as pessoas que conheci na altura, uma delas, o antigo Presidente da República, dr. Jorge Sampaio, também o dr. Ferro Rodrigues. São conhecimentos que mantemos ao longo da vida e guardamos com carinho”.

 

O apelo das planícies do sul foi irresistível, por isso, voltou a Beja e “pôs-se a questão de arranjar aqui emprego”. “Trabalhei numa coisa que se chamava Direção de Obras da Zona Sul dos CTT e trabalhei também numa cooperativa de construção civil, hoje extinta, e daí, o saudoso José Colaço, que era um amigo de família há muitos anos, soube que eu estava em Beja e convidou-me para os quadros técnicos da câmara municipal e assim começou a minha vivência como funcionário público”.

 

O outro apelo foi o do basquetebol. O bichinho estava lá. Não tardou, por isso, culpa sua ou não, que surgisse uma secção no Despertar. “Fundamentalmente, foi por culpa de três pessoas, eu, o Fialho e o Espada e sob pressão de Rui Palma que, na altura, era jogador. Foi assim que começou o nosso percurso no Despertar, de onde acabámos por sair num momento difícil, quando o clube quis ‘profissionalizar’ mais o seu futebol. As coisas tornaram-se incompatíveis. A solução passou mesmo por acabar e arranjarmos um clube próprio”.

 

Uma tarefa destinada, claro, a um engenheiro civil. “Contribui mais como sócio fundador. As pessoas que estiveram na base da criação do BBC foram Luís Caramba, João Vilhena e mais um conjunto de jogadores que, mais do que isso, era um conjunto de amigos que mantiveram uma equipa sénior durante quase 15 anos. A certa altura existiram algumas vicissitudes, mais por questões de qualificação profissional. Na altura eu era o único treinador de nível 2 e eles andavam a ser penalizados semanalmente porque não levavam um técnico qualificado. E foi assim que me agarram outra vez, numa altura em que eu já estava a ver se me retirava”.

 

Ciente das alegrias e das amizades que o basquetebol lhe tem proporcionado, João Margalha considera que está em dívida para com a modalidade, em redor da qual construiu sonhos e propósitos que vai concretizando. “Já fiz algo que era um dos meus sonhos, ter um atleta numa seleção nacional. Era o primeiro propósito e já o consegui. Pela primeira vez na história do basquete em Beja, tivemos um atleta, formado no clube, que esteve numa seleção nacional, num europeu (Carmo Cruz). O segundo propósito seria ter um atleta numa seleção de seniores. Acalento esse desejo, porque o que mais me interessa é formar atletas e formar pessoas. Os resultados desportivos do clube são episódicos, se calhar, nunca seremos campeões de nada, mas a nível individual quero que a nossa formação possa dar ao País atletas com qualidade para poderem representar Portugal”.

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