Diário do Alentejo

Bebiana Sabino: Andebol

19 de dezembro 2019 - 14:35
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“O desporto ensinou-me a ambicionar sempre mais. Ganhei campeonatos, ganhei taças de Portugal, ganhei supertaças. Ganhei aquilo que havia para ganhar em Portugal. Sim, sinto-me extremamente realizada. Tenho pena, se calhar de, em certos momentos, não ter arriscado jogar no estrangeiro. Hoje isso está muito mais facilitado. Se tivesse hoje 20 anos, as coisas seriam completamente diferentes. Nunca optei por isso, muitas vezes por uma questão de escolha entre o andebol e a profissão. Mas foram opções das quais eu não me arrependo de todo”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 

A capitã da principal seleção nacional feminina, na modalidade de andebol, regressou ao Alentejo. Há dois anos, um concurso nacional para colocação de professores, trouxe-a para lecionar em Alvalade-Sado. Hoje, é docente na área de Ciências do Desporto, na Escola Superior de Educação de Beja.

 

Bebiana Sabino nasceu, no Porto, há 33 anos. Tem 108 internacionalizações com a camisola das quinas, é a mais antiga e mais internacional jogadora da equipa nacional portuguesa. Jogadora da equipa feminina do Colégio de Gaia, iniciou a sua prática desportiva em Ermesinde (Valongo), onde viveu. As vivências de infância foram muitas, e as recordações geram uma saudade maior: “Sem dúvida, o jogo informal, brincar na rua, são skills [habilidades] que nos preenchiam o dia a dia e, hoje, quando olhamos para as escolas e vemos a realidade das novas tecnologias que imperam perante o movimento e o corpo, obviamente que recordo com bastante saudade os meus tempos de infância e acho que contribuíram muito para aquilo que eu também sou hoje”.

 

Bebiana recorda: “Enquanto jovem, eu fui sempre extremamente ativa em tudo aquilo que fazia, mas o andebol foi sempre a única prática federada formal e regular que realizei até hoje”.

 

Não admira, por isso, que o caudal das suas vivências académicas tivesse desaguado numa licenciatura na área do desporto. Mas não foi tão fácil assim: “O ingresso no ensino superior foi difícil, após algumas ponderações minhas, até de alguns professores que me tentarem convencer que, se calhar, o desporto não seria a melhor saída. Fui sempre uma aluna com bons resultados e podia ter escolhido outro curso qualquer, desde as arquiteturas às medicinas, mas, ponderadamente, achei que deveria escolher o desporto. Era aquilo que eu gostava, independentemente das saídas profissionais”.

 

Simultaneamente, crescia como atleta e valorizava o seu currículo. O União de Bela, de Esmoriz, foi a sua porta de embarque neste glorioso trajeto desportivo, continuado no Alfenense, afirmado no Colégio de Gaia e confirmado no Madeira SAD, antes de regressar a Gaia, equipa que ainda representa.

 

Pelo meio, teve outra experiência enriquecedora no 1.º de Agosto, em Angola, a convite do atual selecionador nacional Paulo Pereira, que conhecia as suas capacidades. Um desafio que diz ter aceitado com todo o gosto.

 

Com o número 7 na camisola Os títulos abundam no passado e no presente desportivo desta atleta de eleição: “Felizmente, têm sido muitos, apesar de, na minha perspetiva, se aprender mais com as derrotas do que com as vitórias, mas sabe sempre bem. Quem anda no desporto de alta competição não gosta de perder, gosta de ganhar, e os títulos têm sempre um sabor especial”.

 

Com alguma assiduidade nas convocatórias para as seleções regionais, foi com naturalidade que chegou a chamada para a seleção principal. Surpreendida? Só porque ainda era júnior quando integrou a equipa sénior, que disputou um torneio em Espanha. Curioso é o facto de jogar habitualmente, no Colégio de Gaia e na Sseleção, com a camisola 7… Bebiana conta: “Gostava muito do número nove com que jogava o Domingos, atleta do FC Porto, mas atribuíram-me o sete e, para mim, foi um desgosto, porque, na altura, eu não via ninguém a jogar com o número sete que fosse uma referência”.

 

Hoje sim, já existem referências, então por que não questionar se Bebiana Sabino é a BS7 do andebol nacional, em analogia com o CR7 do futebol português?

 

A verdade é que a pivô e capitã da seleção tem 108 internacionalizações e de há uns tempos (2017) a esta parte desceu até ao território alentejano: “Nessa altura foi uma contingência do concurso nacional, se calhar, a vinda para o Alentejo tão cedo, logo no início do ano letivo, que coincide com o início da época desportiva foi um pouco inesperada. Foi um bocadinho duro”.

 

Hoje não, a vinda para Beja (Escola Superior de Educação, onde leciona) foi uma oportunidade que surgiu. Tentei sempre conciliar a minha vida profissional com a desportiva, aliás, o que sou hoje profissionalmente, devo muito ao desporto, porque me ensinou muitas coisas para saber estar a nível profissional. Mas a minha vinda foi uma opção consciente, sabendo das dificuldades que derivam de estar numa cidade que não tem desporto feminino e onde não posso praticar. Felizmente, tive pessoas que me ajudaram e agradeço muito à Zona Azul por conseguir fazer os meus treinos semanais com eles”.

 

Apesar dos sacrifícios, Bebiana assume: “Profissionalmente, direi que tenho realizado os meus objetivos, passo a passo. O objetivo, se calhar, não passava pelo doutoramento ou trabalhar no ensino superior mas, à medida que as coisas foram acontecendo, fomos reformulando os objetivos”.

 

Já no plano desportivo “estaria mais satisfeita se em Portugal tivéssemos outras condições para o desporto amador e para o desporto feminino”. Remata: “Somos muito pouco valorizadas, por toda a gente, pelos espetadores e pelos diferentes órgãos de soberania. Sinto-me um bocado triste, mas esse é um contributo que espero dar daqui para frente”.

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