Diário do Alentejo

Acácio dos Santos: Treinador

05 de dezembro 2019 - 15:00

A cidade de Beja está no meu coração. Sou desta terra e acompanho muito essa vontade de ela se posicionar e de identificar bem quais as suas necessidades. Na questão do aeroporto, da autoestrada, da linha férrea, mas a mensagem que também partilho é a da pró-atividade que terá de existir dentro da sociedade. Nós identificamos as necessidades, vamos atrás delas para serem resolvidas, mas elas não podem servir de desculpa para não existir pró-atividade e evolução da sociedade”.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Acácio dos Santos nasceu há 39 anos em Beja, bem perto do, então, Estádio Municipal Dr. Flávio dos Santos. Jogou futebol no Despertar, clube onde fez toda a sua formação e onde também contraiu uma lesão que lhe cortou as asas ao sonho. A esse sonho, o de chegar mais longe como jogador, porque tem concretizado muito outros.

 

Jogou no Desportivo das Neves, jogou e treinou o Vasco da Gama de Vidigueira, foi coordenador técnico da Associação de Futebol de Beja. Criou, em Beja, a Escola de Futebol do Benfica, em parceria com a Casa do Benfica local. Concluiu uma licenciatura e mestrado em Educação Física, com especialização em futebol, habilitou-se com os cursos UEFA A e UEFA Pro, fez scouting (observação) no União de Leiria, foi adjunto no Rio Maior, no Negeri Sembilan (Malásia), no Levadiakos e no Episkopi (ambos na Grécia), diretor desportivo no Atlético e adjunto de Sandro Mendes no Vitória de Setúbal. Pelo meio foi, durante três anos, comentador da Sport TV.

 

Com todo este trajeto na aquisição de conhecimentos e valorização do seu percurso, Acácio Santos ainda lembra algumas vivências da sua infância na cidade de Beja: “Desde logo a questão de, às vezes, o meu pai e a minha irmã não saberem de mim e eu estava no Flávio dos Santos a ver um jogo de futebol. Percebeu-se logo que a paixão pelo jogo era muita. E era inevitável, porque, estando a crescer perto do Flávio dos Santos, com tanta gente que aqui vinha ver os jogos dos clubes de Beja, foi nascendo um pouco esta paixão pelo futebol e, sobretudo, também aquilo que ele representa para a sociedade”.

 

Porém, a recordação mais dramática, lembrou: “Foi exatamente neste estádio, ainda me recordo desse momento, num jogo do nacional de juniores, entre o Despertar e o Vila Real. Rematei à baliza, veio um jogador que me atingiu no joelho. Vi o meu sonho de ser jogador a ir água abaixo”.

 

Ser filho de um médico abriu-lhe algumas portas para tratar a lesão, mas estava sentenciado: “Não valia a pena pensar em continuar a jogar futebol, porque o joelho não estava em condições”.

 

A função de coordenador técnico da AF Beja também foi uma ferramenta facilitadora para a frequência de algumas formações na Federação Portuguesa de Futebol. Menciona vários treinadores com os quais partilhou essa paixão pelo jogo: Francisco Pardal (primeiro treinador), Mário Engana, Pedro Xavier, Ildo, João Caçoila e Arlindo Morais, a quem sucedeu em Vidigueira. “Fiz Educação Física, em Lisboa, na Lusófona, com a especialização em futebol, com o professor Silveira Ramos, fiz o mestrado em Barcelona, no INEF local, em conjunto com a Fundação FC Barcelona. Privei com uma das minhas grandes referências, que é Francisco Seirul-Lo, o metodólogo do Barcelona, e acompanhei, por duas vezes, a equipa principal do clube, nomeadamente, aquela grande equipa do Pepe Guardiola”.

 

Travou conhecimento com Divaldo Alves, técnico que tinha currículo na Ásia: “Criámos amizade, ele percebeu a minha competência e convidou-me para ir para a Malásia. Foi um desafio muito giro, no Sembilan”. Mais tarde, conta ainda, neste desfilar de estórias e de oportunidades que tem vivido e que se lhe têm deparado, tinha feito um estágio com Pedro Caixinha e Peseiro, no Panathinaikos, e conheceu Jasminko Velic, que era, na altura, o diretor desportivo do clube. “Quando o Velic assumiu a carreira de treinador pediu ao Pedro que sugerisse outras pessoas e uma das que o Pedro sugeriu fui eu. Tornámo-nos amigos e acordamos que, quando ele arranjasse uma equipa na 1.ª Liga, eu o acompanharia. E assim foi. Estivemos primeiro no Levadiakos, mantivemo-lo na 1.ª Liga, e, mais tarde, surgiu o convite para o Episkopi. No regresso a Portugal passei três anos muito interessantes na Sport TV. Posicionaram-me, também, relativamente ao conhecimento e à vontade de trazer uma linguagem e uma comunicação em que o jogo, por si, é só um jogo, não é nada mais do que isso, e que as emoções que ele provoca têm de ser geridas com inteligência. A mensagem que tentei passar na Sport TV foi essa, do conhecimento do jogo e do impacto que ele tem na nossa vida”.

 

Em finais de 2018 surgiu o convite de Sandro Mendes para trabalharem no Vitória de Setúbal. “O Sandro acabaria por sair e convidaram-me para assumir a equipa, nem que fosse de forma interina, e o meu primeiro pensamento foi a questão da utilidade. Então, se posso ser útil ao clube, tudo bem. Disse que sim, mas depois refleti e decidi que não tinha sentido ficar no clube, quando quem me fez o convite tinha saído”, confessou Acácio Santos, antes de lhe pedirmos para se caracterizar enquanto agente do futebol: treinador, formador, analista, comentador? “Treinador. Sou um influenciador social. Essa é a minha essência. A forma como me expresso para ser influenciador social já depende das circunstâncias e daquilo que me faz mais feliz. Fui comentador, agora sou comunicador, também aprendi a sê-lo, fruto de estar na televisão e das responsabilidades, porque também investi um pouco nessa perceção de ser comentador. Sou treinador de futebol, sou também professor de educação física, tenho toda essa pedagogia por trás”, concluiu.

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