Diário do Alentejo

Ricardo Graça: Promessa

20 de novembro 2019 - 10:45

“O campo e a agricultura sempre foram realidades que estiveram bem presentes na minha vida e pelas quais me interessei, talvez por influências familiares, mas certamente também pelo meio social no qual estive inserido durante os meus primeiros 19 anos, uma vez que o Alentejo é um local de forte atividade agrícola e com uma enorme riqueza em termos de paisagens e recursos naturais”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 

O campo é, de facto, um elemento comum e predominante na vida de Ricardo Graça. O campo alentejano, as planícies onde projeta desenvolver a sua atividade como engenheiro agrónomo, o campo de futebol onde, aos fins de semana, exercita a sua atividade como árbitro de futebol, área em que tem pela frente um largo e promissor futuro. Ou não tivesse sido ele um dos jovens eleitos, no final da época desportiva anterior, para atuar no Manchester City Cup, nos Estados Unidos da América.

 

Ricardo Graça nasceu em Beja no outono de 2000, fez o seu percurso académico entre as escolas de Santa Maria e D. Manuel I. Hoje frequenta o Instituto Superior de Agronomia para se licenciar em Engenharia Agronómica. Contudo, diz, no final da licenciatura, “daqui por três anos”, pensa voltar a Beja, “cidade que sempre será a minha casa e nela poder realizar-me profissionalmente e enquanto árbitro de futebol”.

 

É aqui, na planície transtagana, que Ricardo quer “pôr em prática” as suas ideias acerca da sua futura profissão. “Terminar o curso é uma prioridade, mas a arbitragem continuará sempre presente, nunca deixando de lhe dedicar especial dedicação. O grande objetivo é conciliar uma atividade profissional na minha área com a carreira na arbitragem”.

 

Oriundo de um clã de futebolistas, Ricardo assume que o desporto esteve sempre bem presente nas suas vivências familiares. Praticou natação e karaté. O futebol surgiu naturalmente, atuando como guarda-redes no Clube Desportivo de Beja, ainda antes de se dedicar à prática do muay thai, arte que, ainda hoje, é uma das suas paixões. Entretanto, conta, resolveu experimentar o futebol, “numa vertente diferente do que era habitual na família”. “Em setembro de 2014, ainda com 13 anos, iniciei um curso de arbitragem na AF Beja, que terminaria no mês seguinte, já com 14 anos, permitindo-me assim, com essa mesma idade, começar a arbitrar”.

 

Cumpre, atualmente, a sexta época nesta atividade. “O principal objetivo é o mesmo das outras cinco épocas anteriores. Dedicar-me o máximo, para ter a oportunidade de crescer mais, enquanto árbitro e ser humano, e, certamente, obter a melhor classificação possível na minha atual categoria”.

 

O primeiro jogo que realizou, recorda, foi como assistente de José Sá e com David Tripa na outra lateral. “Foi um jogo de iniciados, entre o Despertar e o Renascente, mas aquela que considero a minha primeira e inesquecível experiência foi como árbitro principal, num jogo de benjamins, entre o Clube Desportivo de Beja e o Núcleo Sportinguista de Beja. Esse, sim, foi o primeiro ‘choque’ enquanto árbitro, com 14 anos, estar sozinho num campo para tomar as decisões mais importantes daquele momento. Não foi fácil de todo, mas, na altura, com o apoio de colegas e da família, percebi que realmente eram essas as funções que queria desempenhar no futebol”.

 

Com estes princípios, o pensamento só pode estar em atingir rapidamente a categoria C3 elite, ao nível distrital, e lutar por um dos lugares que dão acesso às competições nacionais. É isso, a ambição é legítima. “Tendo em conta a minha tenra idade e a atual situação da arbitragem nacional, obviamente que tenho como grande objetivo alcançar os mais elevados patamares da arbitragem portuguesa, ou até internacional, sendo que tenho bem presente o grande esforço e dedicação que esse sonho acarreta, mas estou disposto a trabalhar muito para, pelo menos, o tentar alcançar”.

 

Sem ídolos nem referências, o jovem árbitro apreende o que de melhor vai observando nas características de cada juiz, “adaptando- -as” à sua maneira de ser e de dirigir os jogos, podendo, assim, tornar-se “cada vez melhor e definir a imagem” que pretende ter “enquanto árbitro”.

 

Para já, a consciência está tranquila quanto ao seu percurso. “No que depender de mim nunca terei noites sem dormir, pois algo que tenho bem presente todos os dias é que errar é humano e que com o erro se aprende, desde que tome sempre todas as decisões da forma que, para mim, considero a mais justa e correta no momento. Estarei sempre de consciência tranquila, e tal como gosto de dizer, ‘o melhor árbitro não é aquele que não erra, mas sim aquele que menos erra!’”. Convicto de que o erro, no futebol, nunca vai deixar de existir, sustenta que, apenas, se pode trabalhar para diminuir a sua ocorrência e os seus efeitos.

 

No seu currículo, Ricardo Graça conta com quatro presenças em encontros nacionais do Árbitro Jovem, em Caminha, Oeiras (“Cidade do futebol”), Foz Coa e Braga. Mas a sua melhor vivência aconteceu, em maio último, quando usufruiu de um acordo entre a APAF e a Tournaments Abroad que lhe permitiu participar no Manchester City Cup, torneio realizado no SoCal Sports Complex, um complexo de futebol que tem 24 campos de futebol, na zona de Oceanside, na cidade de San Diego, nos Estados Unidos da América, evento que contou com cerca de 430 equipas nos escalões de sub/13 e sub/19.

 

Elegendo o apoio da família como fundamental, Ricardo Graça não esconde o seu sonho: “Tal como qualquer jogador, que sonha em jogar nos grandes palcos do futebol, também qualquer árbitro acredita que pode chegar a esse patamar, pois, tal como refere Roberto Shinyashiki, ‘tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado’”.

 

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