Diário do Alentejo

O “TGV” de Cuba

14 de abril 2024 - 12:00
Ciclista João Letras lidera a Taça de Portugal, em elites e masters amadores, com três vitórias
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

A vila de Grândola receberá, no próximo dia 28, a quarta e última etapa da Taça de Portugal em elites e masters amadores, prova coincidente com o Grande Prémio de Grândola 50 Anos 25 de Abril.

 

Texto Firmino Paixão

O cubense João Letras, ciclista elite amador da formação Grupo Parapedra/Dinazoo/Riomagic/CRP, está imparável. Depois de ter dominado a 16.ª Volta ao Concelho de Almodôvar (ganhando as três etapas e a geral individual) venceu três etapas da Taça de Portugal de Masters – a primeira em Coimbra, depois em Almodôvar e em Ourique. Os triunfos do “foguetão de Cuba” tornaram-se um hábito nesta temporada.

Líder da geral individual e do ranking da Taça de Portugal em elites amadores, o corredor nascido na alentejana vila de Cuba evidencia um extraordinário momento de forma neste início de temporada. Porém, deixou a nota: “Tenho uma grande equipa atrás de mim.

O ciclismo não é uma modalidade individual, como poderá parecer, é um desporto coletivo, um desporto em que a estratégia da equipa é sempre primordial a montante do trabalho individual. Um atleta sozinho nunca ganhará uma etapa ou uma grande prova”.

Para o ciclista alentejano, nascido há 32 anos, líder da equipa da Benedita, todas as palavras parecem curtas para elogiar o contributo dos seus companheiros de estrada. “Tenho ao meu lado uma equipa fenomenal, uma equipa que me conduz às vitórias.

Vão muitas vezes ao limite, para conseguirmos o sucesso. As vitórias que tenho conquistado não são apenas minhas, são de todos os corredores que tenho ao meu lado e que vestem a mesma camisola que eu visto”.

Nomeadamente, o irmão Jorge Letras, um dos seus “gregários”: “É uma motivação ainda maior, porque ele é quem me ‘dá mais na cabeça’, exigindo que eu faça isto e aquilo, é sempre um colega de equipa com quem estou mais à vontade e é com ele que treino mais amiudadamente. Também é um motivo de satisfação, e de orgulho, ter o meu irmão a correr ao meu lado”.

Há cerca de oito anos João Letras iniciou a época como profissional da Louletano, uma temporada algo acidentada que, inclusive, o afastou do sonho de correr a Volta a Portugal. “Foi uma época muito difícil a nível pessoal.

Fui atropelado, estive muito tempo lesionado, e as coisas não correram muito bem para mim. Confesso que foi uma época pouco feliz”.

Quanto à possibilidade de voltar ao profissionalismo, o agora técnico de informática não alimenta grandes esperanças.

“Será muito complicado. Por um lado, a idade que já tenho, mas não é só por isso, teria que contar também com um grande apoio e também surgir uma oportunidade que valesse a pena. Infelizmente, o ciclismo profissional, em Portugal, está ainda um pouco pobre e acho até que não terá muito futuro.

Sempre tive um sonho, que ainda não concretizei, que era disputar uma Volta a Portugal, infelizmente, até ao momento, ainda não o consegui realizar”.

A ideia, porém, não está abandonada. “Se surgisse uma oportunidade que valesse a pena, se calhar, pensaria duas vezes. Mas hoje em dia já é bastante complicado, teria que existir uma grande motivação para isso, embora a ambição se mantenha dentro de mim”.

O segredo deste velocista está na dedicação. Na vontade em deixar o trabalho, pegar na bicicleta e treinar, diariamente, duas ou três horas. Afinal, “o ciclismo para ser levado a sério exige muito trabalho diário”, garantiu. “Temos que pensar que só trabalhando diariamente, treinando afincadamente, podemos interiorizar os objetivos de chegar a uma prova e querer vencê-la.

É essa vontade, essa ambição que me motiva, porque, quando conquistamos um lugar no pódio, ou quando vencemos uma corrida, sentimos que todo aquele esforço valeu a pena e foi recompensado”.

A época começou com a melhor das pedaladas para o corredor alentejano. Uma vitória na Volta a Almodôvar, algo que ele e a equipa perseguiam há alguns anos. Mais adiante, três vitórias em outras tantas etapas da Taça de Portugal.

“Quero acabar em primeiro lugar, quero conquistar essa camisola”, admitiu João Letras, confessando que representa atualmente uma das melhores equipas amadoras, revelando já ter declinado alguns convites. “Temos um incrível espírito de equipa e, quando é assim, as vitórias ainda acontecem com maior naturalidade”.

Outros momentos altos da carreira viveu-os nas edições da Volta ao Alentejo em que já competiu, assumindo: “Como alentejano que sou, é das provas que mais me marcam. Uma prova que, muitas vezes, passa pela minha terra, passa perto da minha casa, porque essa é outra das virtudes do ciclismo. Foi uma das provas que mais gostei de fazer e que mais me marcou na minha carreira, porque na estrada toda a gente me incentivava e gritava pelo meu nome, e isso é algo verdadeiramente motivador”.

João Letras começou a sua carreira velocipédica no Centro de Ciclismo de Cuba por influência do pai. “O meu pai também era atleta e dirigente, depois foi o meu irmão, que tem mais cinco anos do que eu, e eu fui atrás deles.

Temos três atletas em casa, não se fala de outra coisa que não seja ciclismo. Agora espero que os nossos descendentes deem continuidade a esta nossa paixão.

Mas isso é como tudo, eles é que escolherão a modalidade em que melhor se sentirem, mas, por mim, poderia ser o ciclismo”. Esperamos, então, que dentro de duas semanas, João letras seja laureado na “Vila Morena” como vencedor da Taça de Portugal em Ciclismo no escalão de elites amadores.

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