Diário do Alentejo

Ana Cabecinha quer terminar a carreira nos Jogos Olímpicos Paris 2024

24 de dezembro 2023 - 12:00
Um adeus em grande
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Apenas uma despedida da alta competição, nunca um adeus à modalidade que lhe tem dado tanta projeção nacional e internacional. Ana Cabecinha conseguiu a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, os quintos da sua carreira, palco onde diz querer despedir-se.

 

Texto | Firmino Paixão

 

A pensar já nos Jogos Olímpicos Paris 2024, cuja qualificação já garantiu, Ana Cabecinha persegue mais um título nacional e deve voltar a participar na Corrida de São Silvestre de Beja. “O simples facto de já ter assegurado a presença em Paris deu-me outra mentalidade e outra forma de ver a época. Estou sempre dentro dos melhores 10 ou 15 lugares do ranking mundial, felizmente, estou sempre no lote de 65 atletas que são qualificadas, mas o facto de conquistar marca direta dá-nos uma tranquilidade enorme”.

 

Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016, Tóquio 2020, Paris 2024: onde é que isto irá parar?

Vai parar agora. No próximo ano terei 40 anos, 30 de carreira, já são muitos anos em alto nível e está na altura de parar, embora o meu corpo e a minha cabeça ainda não me peçam isso. Não para fazer um novo ciclo olímpico, mas para ficar mais um ou dois anos. Mas não! Está na altura de sair bem, sair pela porta grande, e acabar a minha carreira em Paris, porque será um palco que todos os atletas ambicionam. Quem não gostaria de acabar uma carreira num grande palco como os Jogos Olímpicos?

 

Que meta leva então para Paris? Superar o oitavo lugar de Pequim, o seu melhor registo nos Jogos Olímpicos?

Há quatro anos fiquei com um sabor amargo em Tóquio, mas aconteceu muita coisa no ano de 2021: a perda do meu pai, a pandemia, foi tudo muito próximo. Não fui aos jogos de Tóquio com a mesma mentalidade em que estive noutros jogos. No próximo ano, com a cabeça limpa e com outra força, espero conseguir um melhor resultado do que fiz nos outros jogos. Estou a trabalhar para isso. Não quero colocar a fasquia demasiado alta, mas, porque não repetir o top 10 dos outros jogos e acabar bem, porque quero acabar a minha carreira em Paris e gostava de sair em grande.

 

Já sente a ternura dos 40…

Sim, está na altura de pensar na família, ter filhos, pensar numa carreira de treinadora a ajudar os mais jovens, correr nas provas populares, enfim, divertir-me, é para aí que irei estar direcionada. Correr de uma forma lúdica, mantendo-me ativa, mas afastada da alta competição.

 

Antes disso terá oportunidade de conquistar o seu décimo primeiro título nacional nos 20 quilómetros marcha…

O título nacional é um objetivo, como é óbvio, até porque o próximo campeonato decorrerá em Olhão, a cidade que me viu crescer como atleta. Claro que sou alentejana, mas como Olhão vai acolher o nacional sinto-me a correr em casa, algo que terá outro sabor, mas também outra componente ao nível de pressão. Espero estar bem, quando o campeonato se realizar, para conseguir mais um triunfo, portanto, tenho as baterias apontadas para o mês de fevereiro.

 

Uma alentejana, sempre o assumiu, que é embaixadora do Plano Nacional de Ética no Desporto do Instituto Português do Desporto e Ju-ventude, indicada pe-la delegação regional do Algarve…

É um papel importante. A ética faz parte do desporto, tem, obrigatoriamente, que fazer, e nós temos de incutir isso nos mais jovens. Foi muito bom o Instituto Português do Desporto e Juventude ter-me escolhido para ser um dos rostos para falar desse tema e para o incutir nos jovens. Sinto-me muito lisonjeada por isso. Mas, sim, foi, realmente, o delegado regional do Algarve, Custódio Moreno, pessoa que me conhece desde sempre e que me viu crescer como atleta, que me indicou. Foi com todo o prazer que aceitei esse desafio e está a ser muito gratificante.

 

Uma cultura de ética e de não violência no desporto: são dois temas cada vez mais atuais e prementes…

Sim. Mas deve ser no desporto em geral. Felizmente que no atletismo não sentimos muito isso. Existe respeito. Não predomina essa falta de ética, nem a violência. Mas é importante incutir isso nos jovens, nos pais, nos outros familiares, porque, frequentemente, é quem está por fora que incute mais esses comportamentos menos correctos. Os jovens aprendem facilmente com os mais velhos. Por isso, cabe-nos trabalhar bem a parte das mentalidades dos mais velhos, para que as crianças vejam e copiem os bons exemplos. É nisso que temos de trabalhar, diria mesmo, que temos de batalhar, porque só assim é que os jovens desenvolverão comportamentos éticos e de respeito uns pelos outros.

 

Foi nomeada para a Gala do Desporto, em Beja, foi embaixadora de um evento em Castro Verde. Sente-se bem com este reconhecimento?

Claro. É gratificante. Não estava, minimamente, à espera de ser nomeada para a Gala do Desporto, até pelas regras que estavam inseridas no regulamento. Não sou residente no concelho há alguns anos, nem represento nenhum clube do Alentejo, mas quando soube da nomeação fiquei muito feliz, pela forma como o meu nome surgiu e, mesmo sabendo que nunca iria vencer, fiz questão de estar presente. Teve uma vencedora justa, aliás, a vitória de qualquer uma das outras nomeadas seria perfeitamente justa. Porém, achei que seria importante estar presente porque foi esta a região que me viu nascer, que me viu crescer, a mim e aos meus irmãos, e senti que seria fundamental estar presente, aliás, sempre que for solicitada para alguma coisa no Alentejo farei questão de comparecer. Agradeço terem-me nomeado, e agradeço também que o município de Castro Verde se tanha, igualmente, lembrado de mim. Quero que saibam que sou alentejana, faço questão de o dizer sempre. Serei eternamente alentejana. Represento um clube do Algarve e gosto que as pessoas me vejam nessa condição, mas também que me olhem como uma atleta alentejana, que sou.

 

Tem uma ligação de muitos anos ao Clube Oriental de Pechão. Vai mantê-la?

O Clube Oriental de Pechão sempre foi o meu clube, desde 1996. Nunca vesti outra camisola. Tenho um carinho e uma paixão enormes pelo clube. Manter- -me-ei sempre ligada a ele, esse sentimento nunca se perderá. O Paulo Murta foi, uma vida toda, o meu treinador. É um amigo, faz parte da minha família. Tudo o que sei, quer como atleta, quer como treinadora que futuramente quero ser, aprendi todos os dias com o Paulo Murta.

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