Diário do Alentejo

Manuel Custódio, presidente do conselho de arbitragem da AF Beja, apela à união dos agentes desportivos

09 de julho 2023 - 09:00
Todos no mesmo barco
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A escassez de árbitros para fazer face a um cada vez mais elevado número de jogos é uma das maiores dificuldades com que se depara Manuel Custódio, presidente do conselho de arbitragem da AF Beja.

 

Texto Firmino Paixão

 

Nessa medida, foi criado o chamado “grupo de apoio”, que integra árbitros que já tinham abandonado a atividade nas provas federadas e aceitaram regressar. Olhando para a próxima temporada, mantém as expectativas elevadas e pede que os árbitros sejam cada vez melhores, apelando a que, em conjunto com todos os agentes desportivos, sejam parte da solução e nunca do problema. Manuel Custódio felicitou também o bejense Bruno Vieira pela sua promoção ao escalão principal da arbitragem nacional.

 

A época que encerrou não deve ter sido fácil…

As épocas são todas difíceis de gerir devido à crescente escassez de árbitros. Mas este não é um problema local, está generalizado. E nós até temos conseguido realizar os campeonatos com a presença de árbitros, o que nem sempre acontece noutras associações. Outro problema é que, nos jogos de miúdos, em que nomeamos os árbitros mais jovens, estão lá pais que julgam ter em casa um Messi ou um Ronaldo e acham que o jovem árbitro é um frangalho qualquer. Ofendem-nos e, inúmeras vezes, os jovens, que muitas vezes já têm uma formação académica avançada, abandonam precocemente a arbitragem. Não estão para ser tratados de certa forma. Por isso, temos todos de ver o que andamos a fazer, temos de encontrar soluções e não criar problemas.

 

O conselho de arbitragem conseguiu o regresso de antigos árbitros que já estavam afastados?

Foi um risco que assumimos, conscientemente. Vi alguns desses árbitros a apitar jogos do Inatel. Estão bem fisicamente e deram-nos uma ajuda importante. Por outro lado, a Federação Portuguesa de Futebol aumentou a idade limite dos árbitros das competições profissionais para os 50 anos. Então, por que não aproveitarmos estes árbitros experientes, mesmo com 53 ou 54 anos, mas com boa condição física, para dirigirem os nossos jogos? Por isso, foi criado este “grupo de apoio”, que nos deu uma ajuda importantíssima, até para partilharem a sua experiência com os árbitros mais jovens.

 

O conselho tem um elevado número de árbitros nos quadros nacionais. Sendo motivo de orgulho, também acrescenta dificuldades?

É verdade, e temos que lamentar que um desses árbitros, um jovem com um futuro muito promissor na arbitragem, o Ricardo Graça, tenha decidido abandonar a sua carreira. Um jovem com formação académica, com muita maturidade e enorme qualidade. Telefonou-me e disse-me: “Não é isto que eu quero. Foi uma experiência agradável, conheci muitas pessoas, fiz muitos amigos, mas não é isto que quero para o meu futuro”. Tentei demovê-lo, mas abandonou. Era árbitro com potencial para atingir um patamar bastante elevado. Se ele não tem desistido, teríamos um número de recorde de árbitros em quadros nacionais.

 

No quadro nacional não tiveram despromoções?

No futebol de 11, nenhum dos nossos árbitros foi despromovido. No futsal, apesar de classificações menos conseguidas, como também há carência de árbitros, pode ser que se mantenham. Temos essa esperança. Mantemos oito árbitros no quadro nacional. Mas, lá está, sete árbitros significa que, sendo todos nomeados, deixamos de contar com 21 árbitros para as competições regionais, e com o Diogo Rosa que já apita a 2.ª liga, mas não leva equipa do distrito, são 22. O objetivo do conselho de arbitragem e da comissão técnica é termos o maior número de árbitros nos quadros nacionais e num nível cada vez mais elevado. O mérito é de todos eles, pelo trabalho que fazem, pela dedicação e empenho que põem na causa. Nós apenas procuramos dar-lhes todo o apoio possível.

 

Jorge Sousa, o “árbitro do ano” e Alexandre Sesifredo, segundo classificado, foram às provas de acesso ao nacional. O primeiro reprovou, o segundo ficou apto. Parece contraditório…

O Jorge Sousa trabalhou muito neste ano. Nas provas de acesso conseguiu fazer as l5 voltas nas provas físicas, que é o máximo, o Alexandre só fez 14, com mais uma, teria ficado ainda melhor classificado. O Jorge teve um bom desempenho no teste escrito mas, nas técnicas de arbitragem, falhou ali qualquer coisa. Mas é um bom elemento do nosso grupo, só não nos ajuda se não puder de forma alguma. Foi pena.

 

Parece imperioso que se façam novos cursos de candidatos a árbitros e, eventualmente, descentralizados?

Vamos fazer um, brevemente. Provavelmente, será já uma ação presencial e, talvez, em Ourique. Temos um território com grandes distâncias, por isso, à semelhança do que já fizemos, pensar-se-ia que seria melhor fazê-lo pela via digital, mas não tem o mesmo impacto que tem uma ação presencial. Em outubro iniciaremos um novo curso. E porquê em Ourique? Para aproveitarmos também os concelhos limítrofes, Castro Verde, onde só temos um árbitro, em Almodôvar não temos nenhum, Aljustrel já teve até um núcleo com um elevado número de árbitros, atualmente, esse número é reduzido e queremos aumentá-lo. No concelho de Odemira temos bastantes clubes, muitos jogos de várias categorias também, precisamos de mais árbitros. Depois, temos que nos focar na zona norte do distrito.

 

Quais são as expectativas para a nova época?

São bastante elevadas. Preten-demos que os nossos árbitros sejam cada vez melhores. Que sejam parte da solução e nunca parte do problema. O futebol precisa de todos os agentes e será bom que nos mentalizemos que somos parte de um todo, que é o futebol, sem criarmos barreiras. Naveguemos todos no mesmo barco imbuídos do mesmo espírito.

 

O bejense Bruno Vieira (CA Lisboa), não sendo já filiado neste conselho, subiu à primeira categoria…

Congratulamo-nos muito com isso. Está ali muito trabalho e muita dedicação dele. Nada cai do céu. O Bruno Vieira trabalhou muito para atingir este patamar, ele tem a vida profissional em Lisboa, filiou-se lá, mas o seu sucesso e a sua progressão na arbitragem orgulham-nos muito, é um orgulho enorme para a arbitragem bejense, porque foi aqui que tudo começou, foi esta a primeira casa dele. Não sendo árbitro do nosso conselho, é um bejense bem-sucedido e desejamos-lhe, tal como aos nossos, o maior sucesso.

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