Diário do Alentejo

José Luís Prazeres deverá continuar como treinador do Moura Atlético Clube

24 de novembro 2023 - 10:00
"Uma equipa à Moura"
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

José Luís Prazeres iniciou a última época desportiva como técnico do Aljustrelense e acabou a temporada em Moura. Não sendo invulgar, tão pouco inédito, na carreira deste treinador bejense, José Luís lamenta a saída dos tricolores e elogia a forma como foi recebido pelos mourenses.

 

Texto Firmino Paixão

 

A nova equipa diretiva do Moura Atlético Clube, presidida pelo regressado Luís Jacob, toma posse nesta sexta-feira, mas o “Diário do Alentejo” sabe que existe vontade do líder do executivo para a permanência do treinador bejense e que José Luís também mostra essa disponibilidade, com a condição de ter “uma equipa à Moura”.

 

Uma época atípica para o treinador José Luís Prazeres. Uma parte da época no banco do Aljustrelense e o resto como técnico do Moura…

É difícil responder a essa questão, mas assumo que foi uma época muito desgastante para mim. Comecei num clube que me diz muito, e ao qual devo imenso, sem direção, porque o Mineiro estava num processo eleitoral, construindo desde os primeiros escalões de formação, petizes, traquinas, benjamins, até juniores e seniores, algo que o Mineiro não tinha há muitos anos. Fi-lo por amor àquele clube e, muito sinceramente, não estava à espera daquilo que foi feito. Aceito, custou-me, mas aceito, porque tenho essa capacidade.

 

A porta ficou aberta?

Mantenho, claramente, uma amizade com o presidente Ricardo Galope, pessoa por quem tenho grande estima. Sei que não foi ele que dispensou os meus serviços. Infelizmente, a época terminou e o Mineiro acabou por não ser campeão, e a culpa maior não deverá ser atribuída ao presidente nem aos jogadores. A equipa estava em primeiro lugar. De certa forma, tenho de perceber que, ao fim de 42 anos no futebol, tenho ainda muita coisa a aprender.

 

Depois surgiu a proposta do Moura…

Já em Moura, ainda passei por um período difícil, que foi o falecimento do meu avô, uma pessoa muito importante na minha vida. Mas foi graças a esta estrutura que o Moura tem que consegui manter-me no clube. Também com o esforço dos jogadores, nem sempre da melhor maneira, mas consegui terminar uma época que foi extremamente difícil. Comecei num clube de que gosto muito e acabei num clube maior. Num clube com muitas condições, com gente boa, trabalhadora, que também passou por um ano atípico, porque o investimento foi mais direcionado a infraestruturas do que propriamente ao plantel sénior. Não era, nem de longe, nem de perto, uma equipa à Moura. Soube disso desde o primeiro dia em que aqui cheguei, porque as pessoas foram muito sinceras comigo. Foi um ano para aprender, para crescer. Com certeza que fiquei mais forte enquanto ser humano. O futebol, já dizia o Vítor Oliveira, “é só a coisa mais importante das menos importantes da nossa vida”.

 

O Moura foi a Aljustrel empatar e, de certa forma, travar o percurso do Mineiro na procura do título?

Sou profissional. Terminámos a época a jogar em casa com o Despertar e, desde já, felicito toda a sua estrutura, equipa técnica e jogadores. No entanto, durante a semana que antecedeu essa partida soaram rumores de que iríamos vender o resultado. Até aceitei que pessoas com alguma responsabilidade em Castro Verde tivessem vindo ver o jogo a Moura, em vez de terem acompanhado a sua equipa para Aljustrel. Criaram um clima de desconfiança em redor da equipa do Moura. Mas, para quem viu, as melhores oportunidades foram nossas, embora o Despertar, com muito coração, tenha conseguido a vitória nos instantes finais. Agora, saí de Aljustrel com a equipa no primeiro lugar e o Mineiro, desde a nossa saída, perdeu 28 pontos. São factos. Podem dizer que vim para Moura e não venci quase jogo nenhum, mas aquela equipa do Mineiro estava montada para ser campeã e a realidade é que, desde a minha saída, uma equipa que liderava o campeonato perdeu 28 pontos.

 

Como vê o atual estado do futebol regional?

Vivemos num distrito onde eu gostava, sinceramente, que as pessoas percebessem que, infelizmente, as decisões que são tomadas mais centralmente prejudicam claramente os distritos mais distantes dos centros de decisão e, nomeadamente, o interior. Neste distrito é muito mau que se jogue em infantis com nove jogadores, um plantel será de 15 ou 16. No meu tempo jogávamos com 11 e os plantéis eram de 22. Ora, perdemos 10 miúdos para outras modalidades e, multiplicando por 10 equipas, são 100 miúdos que se perdem por época. E isso depois vai interferir com os plantéis seniores. Se os clubes não se prepararem, num futuro muito próximo, só terão os jogadores que venham de fora, muitos deles com mais ambição, não direi que tenham mais qualidade, mas vêm com mais vontade. É importante prepararmo-nos para o futuro e percebermos que o futebol é claramente a maior modalidade que existe e que os jogos se resolvem no campo, com qualidade e com alegria, porque é isso que é importante.

 

Qual é o seu futuro enquanto treinador?

Terá de ser o presidente do clube a responder a essa questão. Eu gosto muito de estar em Moura. Fui muito bem recebido nesta cidade e neste clube. Há muito tempo que não era recebido desta forma num clube. Deparamo-nos sempre com barreiras, há sempre os que gostam e os que não gostam, mas fui muito bem tratado em Moura. Não sei se houve unanimidade na minha contratação, mas sei que fui feliz em Moura. Senti-me muito bem neste tempo em que fui treinador do Moura Atlético Clube. Já conversámos, manifestei a minha disponibilidade para continuar, mas a decisão será sempre do recém-eleito presidente da direção.

 

O que precisará para continuar a treinar o Moura?

Permanecendo aqui, teremos de construir uma equipa à Moura. Com todo o respeito por aqueles que foram meus atletas nesta época, porque eles deram o que tinham e, às vezes, o que não tinham, mas, ficando aqui, só com uma equipa à Moura. Este plantel foi construindo, desde o início, por gente que deu tudo pelo clube. Houve gente que deu um passo em frente para o clube não fechar as portas. Construíram uma equipa em que o objetivo era muito claro: apenas a manutenção. Conseguimos, também com mérito para o “Cajó”, pelo período em que cá esteve, fazendo um bom trabalho. Conseguimos depois chegar a uma meia-final da taça, portanto, a época não foi assim tão má quanto isso.

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