Diário do Alentejo

António Parreira: “Corro pelo enorme gosto por esta modalidade"

17 de agosto 2020 - 21:05

“A história de que de mais se fala sobre Messejana é a da praia. Esta vila foi sede de concelho e, nos idos tempos de 1910, alguns notáveis locais foram a Lisboa falar com o ministro do Fomento, o médico e escritor aljustrelense Manuel de Brito Camacho, sobre as carências do concelho, mas as necessidades apresentadas eram tantas que o ministro lhes perguntou se não tinham também falta de uma praia e daí nasceu a história da praia de Messejana”.

 

Texto Firmino Paixão

 

Uma narração alegórica, aqui reposta pelo António Parreira que, passados dois séculos, mantém a mesma pertinência e atualidade. Se já nesse tempo, quem se sentava na cadeira do poder achava que tudo o que viesse para o interior era em demasia, hoje a história repete-se amiudadamente. Mas os messejanenses da época não se vergaram à douta ironia ministerial e replicaram: “Arranje lá vossa excelência a água, que nós arranjaremos a areia”. É com essa mesma determinação, com esse caráter e sentimento de inconformismo que o antigo mineiro António Parreira, atleta do Núcleo de Atletismo e Recreio de Messejana, se mantém ativo e predisposto a dar o exemplo de práticas de vida saudável.

 

Nasceu, há 64 anos, nessa bela vila de Messejana, terra associada a outras parábolas, nomeadamente de caráter religioso e taurino, mormente à conhecida “afición” de um pároco local que, hoje, tem o seu nome perpetuado da praça de touros da terra. Por esta altura, tivesse já a pandemia nos deixado em paz e sossego, viviam-se ali as grandes Festas de Santa Maria, em honra de Nossa Senhora da Assunção. Pois bem, António Parreira, apesar de ter nascido naquela terra a que D. Manuel I concedeu o foral de concelho, foi registado em Aljustrel e ali se radicou desde os seus tenros 14 anos.

 

“A minha infância foi normal, igual a tantos miúdos dessa época, com boas vivências. Na escola apenas fiz a sexta classe da altura. Nessa época sonhava em ser mecânico, mas nunca concretizei esse sonho”, conta o atleta, revelando ter começado muito cedo a trabalhar no campo. “Depois, aos 12 anos, fui trabalhar para a Forma, uma antiga fábrica de mobiliário em azinho, situada em Messejana. Com essa idade já tinha o cartão da Caixa de Previdência”.

 

O sonho da mecânica desvaneceu-se mas teve uma experiência aproximada: “Trabalhei em oficinas onde se reparavam as alfaias agrícolas, mas isso aconteceu até ir para a tropa, depois fui para a mina”. Nos finais da década de 70, já após a Revolução de Abril, cumpriu o serviço militar no, então, Regimento de Infantaria nº 3, na cidade de Beja.

 

Vivendo em Aljustrel, foi inevitável que viesse a trabalhar nas minas. “Depois de vir da tropa, fui para a mina, trabalhei 10 anos numa forja e, depois, fui para a lavaria industrial, que pertencia às minas, onde se extraía do minério bruto o cobre, o chumbo e o zinco”. Entretanto, ainda jovem, começou a construir os alicerces familiares. É essa a ordem natural da vida. “Casei aos 20 anos, tenho dois filhos, um deles já com 43 anos e o mais novo com 36 anos. São ambos entusiastas de desporto. O mais velho adorava atletismo, o mais novo gostava de natação”.

 

António Parreira, quando jovem, nunca praticou outros desportos que não fossem as jogatanas de rua com a rapaziada da sua idade, e revela que o atletismo surgiu na sua minha vida quando já tinha 27 anos e por influência do filho mais velho. “Ele gostava imenso da modalidade, incentivou-me e andou comigo até ir para a Força Aérea. Eu fui ficando e ainda por cá ando”.

 

Aos 64 anos, já aposentado desde os 52, o que faz o António Parreira correr, que não seja apenas manter a sua visível e invejável boa condição física? “O que me faz correr é o enorme gosto por esta atividade. A corrida é uma prática muito boa para a saúde. Depois, também, as amizades e a boa camaradagem que se vive nas provas. Tudo isto acabou por se transformar numa paixão que é difícil de abandonar”.

 

António Parreira recorda que ter começado a correr no Desportivo da Juventude Aljustrelense (DJA). Quando este clube terminou, foi para o Grupo Desportivo de Messejana, até que, passado algum tempo, nasceu o Núcleo de Atletismo e Recreio de Messejana (NARM). “Por cá me mantenho desde a fundação do clube”. Com esta camisola tem conquistado alguns títulos que lhe alimentam esta vontade de correr. “Sim, ganhei muitas provas, fui campeão distrital algumas vezes e fiz também recordes do distrito nas distâncias de 1 500, 3 000 e 5 000 metros, porque também faço provas em pista, apesar de gostar mais de correr em estrada”.

 

Na sua avaliação enquanto desportista, considera-se “um atleta normal”. E explica: “Gosto de ganhar, mas também gosto de ajudar os colegas a continuar”.

 

Hoje e apesar de a pandemia manter em suspenso a realização das provas federadas, o desportista do NARM continua a treinar com o mesmo entusiasmo e a mesma paixão porque, com os tempos, a vida familiar foi-se adaptando aos seus hábitos. “No princípio, a ‘dona da casa’ não gostava, pois atrapalhava a lida doméstica, principalmente ao jantar, porque vinha tarde dos treinos e só podia arrumar a cozinha mais tarde… mas depois adaptou-se”, confessa, satisfeito com este seu percurso: “Sinto-me feliz… apesar de haver alguns percalços, como há em tudo na vida, estou contente, as alegrias têm valido a pena, as amizades ficam para sempre e consegui os meus objetivos. Agora só espero ser feliz o resto do tempo que me resta”.

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