Diário do Alentejo

Perfil de Nelson Hermosilha, árbitro do ano

22 de julho 2020 - 16:00

Nelson Hermosilha foi o melhor classificado entre os árbitros de elite do Conselho Regional de Arbitragem da Associação de Futebol de Beja. Ou seja, foi o “Arbitro do Ano”. Nasceu há 32 anos em Vila Azedo, povoação da vizinha freguesia de Nossa Senhora das Neves, no concelho de Beja.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

“Toda a minha infância foi vivida na aldeia, entre a escola e as brincadeiras com os amigos. Na juventude joguei futebol no Clube Desportivo de Beja, como infantil e iniciado, mas fui obrigado a abandonar por motivos de saúde. Voltei mais tarde, já com 18 anos, a convite do treinador João Guerreiro, para ingressar no futsal”, recorda o juiz, que sempre se sentiu fascinado pela modalidade. “O futebol é uma grande de paixão que nos enche a alma e que nos torna os dias completos. Lá na aldeia, uma bola, meia dúzia de amigos, e não havia sábado, nem domingo, sem ‘jogatana’. Era certinho”.

 

Quando pequeno, Nelson Hermosilha teve o sonho de ser um grande craque. “Por motivos de saúde, esse sonho ficou pelo caminho”, explica. Mais tarde experimentou o futsal, modalidade por onde andou 10 anos, repartidos pelo Grupo Desportivo e Cultural do Alcoforado e pelo Clube Desportivo de Beja, onde terminou a carreira. Um jovem que goste de futebol e não se afirma como jogador, inúmeras vezes envereda pela arbitragem. Terá sido o caso? “Tirei o curso só por curiosidade, para aprendizagem das leis de jogo. Nem sequer queria apitar. Não foi nenhuma escapatória para justificar algum tipo de insucesso, nem nada que se pareça” garante. “Há um tempo e há alturas para tudo, e eu já tinha decidido que iria terminar a carreira de jogador naquele ano. Entretanto, na arbitragem, as coisas evoluíram, havia alguma carência de árbitros, fui ficando cada vez mais dedicado e consegui evoluir nas categorias obtendo sempre classificações de topo”.

 

Mas o seu tempo para esta escolha aconteceu tardiamente. “Cheguei à arbitragem com 27 anos. Ainda me recordo do meu primeiro jogo, em Alvito. Tive a sorte de ser acarinhado pelos árbitros existentes na altura, mais experientes, que apostaram em mim e reconheceram valor nos meus primeiros passos. Falo do Bruno Vieira, do Tiago Cordeiro e do César Leitão, com quem tive o prazer de fazer equipa durante três anos, nos campeonatos nacionais”, refere.

 

Foi uma subida, a pulso na carreira da arbitragem, valorizando-se à medida que via crescer essa paixão. E tudo isso teve paralelo na vida profissional. “Comecei a trabalhar muito cedo. Trabalhei no campo, num ‘call center’, em oficinas e transportadoras e agora estou na banca”. Licenciado em Gestão de empresas, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja, em horário pós-laboral, estagiou no Banco Espírito Santo e desde há 10 anos está na Caixa Geral de Depósitos.

 

Voltando ao futebol e à especificidade da arbitragem, Nelson Hermosilha assume-se como um árbitro “pedagógico”. E explica porquê: “Tento sempre que os meus jogos sejam tranquilos e sem conflitos. Prefiro falar com os jogadores e explicar as minhas decisões. No entanto, sei que, por vezes, não é possível ser tão calmo assim, e as atitudes e a postura são mais autoritárias”.

 

Nesta época desportiva, abruptamente interrompida pela pandemia, cumpriu o objetivo de ser o melhor entre os melhores. “Sem objetivos, a vida fica sem sabor. Esperava uma época difícil, porque o grupo de elite tinha muitos jovens cheios de talento e, mais uma vez, nem a idade, nem a minha disponibilidade temporal, enquanto trabalhador, me favoreciam”. Porém, confessa ter trabalhado com dedicação e espírito de sacrifício, sentindo-se hoje recompensado com o primeiro lugar na categoria C3 Futsal e primeiro lugar na Elite C3 Futebol. Uma dobradinha, assim lhe chama. “É um sentimento muito bom, muito gratificante, porque trabalhei muito para atingir essas metas”.

 

Como nada acontece por acaso, certamente que Nelson Hermosilha teve pilares sobre os quais ergueu este sucesso. “A minha determinação é, sem dúvida, um dos meus pontos fortes em tudo, mas o sucesso faz-se de um conjunto de fatores que se adicionam ao nosso esforço e à dedicação, e os pilares mais importantes que tenho neste sucesso são a família, principalmente os meus pais e a minha namorada, os assistentes que me acompanharam e, sem dúvida, o trabalho realizado em conjunto com o conselho de arbitragem, comissão técnica e com o preparador físico, professor José António”.

 

O primeiro lugar na época garante-lhe a presença nos exames de acesso ao quadro nacional, mas vivemos uma nova realidade, reconhece o árbitro bejense. “Uma coisa que nós aprendemos com esta crise sanitária global é não fazermos grandes planos para o futuro, porque estamos a viver tempos de incerteza e a saúde é o mais importante de tudo. Espero, e foi para isso que trabalhei, ser indicado para as provas de acesso ao nacional, mas atualmente não se sabe o que pode acontecer”.

 

Ainda assim, garante que irá continuar na arbitragem, filiado na Associação de Futebol de Beja. “Irei dignificar a arbitragem bejense, em qualquer campeonato ou divisão”, assegura. E sonhos por concretizar? “Bom, sonhar é viver e eu vivo intensamente o meu dia-a-dia. O meu sonho, nesta caminhada, passa por ser melhor a cada dia e atingir patamares profissionais”, remata.

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