Diário do Alentejo

Perfil de Ana Gonçalves: “Espero chegar longe na arbitragem"

13 de julho 2020 - 21:00

“Se passares à minha aldeia, não vás de cabeça ao léu…”, reza o poema que o aldenovense João Monge escreveu para o rancho de cantadores da sua terra natal. “Quando o sol mais almareia, podes por o meu chapéu”, completou a sua conterrânea Ana Gonçalves, confirmando os seus dotes para entoar as modas desta planície doirada. Mas aqui a música é outra.

 

Texto Firmino Paixão

 

Ana Gonçalves, jovem ali nascida, há 18 anos, destaca-se também como a única árbitra de futebol e futsal no quadro do Conselho Regional de Arbitragem da Associação de Futebol de Beja. Vamos conhecê-la? “Sou uma jovem simpática, alegre e sempre disposta a ajudar o próximo mas, acima de tudo, com a característica de possuir uma personalidade muito forte”, assim se define esta nativa do signo peixes, cujo mapa astral tem presente “um forte otimismo e sonhos de uma vida melhor”.

 

Ana teve uma infância feliz e, desde muito cedo, ligada ao desporto. Aos quatro anos praticou patinagem de velocidade, na Associação de Jovens de Vila Nova de São Bento. No entanto, foi logo desde muito pequena que começou a “andar nos relvados” na companhia do pai, diretor do Aldenovense. “Eu era aquela menina que corria logo atrás da bola, sempre que ela saia do terreno de jogo”. Mais tarde foi mesmo jogar futebol. “Eu e os meus colegas de turma fomos ter com um funcionário da escola, que era treinador, e sugerimos-lhe fazer uma equipa para participarmos nos jogos municipais”.

 

O passo seguinte foram as camadas jovens do clube da terra, com cuja camisola venceu, em 2017, a Taça Disciplina, no escalão de iniciados. O fascínio pelo futebol, e o sonho de se tornar jogadora, começou por essa altura. Mais adiante, conta Ana Gonçalves, foi jogadora do Aldenovense, esteve na seleção distrital de futebol feminino e, por fim, fez uma pré-época no Futebol Clube Castrense, sempre na posição de extremo esquerdo. “Joguei sempre com amor à camisola que vestia, com garra, e dando o melhor de mim para que, no final, eu e a minha equipa ficássemos felizes com o jogo que tínhamos feito”.

 

Com uma noção de grande realismo, Ana Gonçalves assume ter enveredado pela arbitragem uma vez que não se “afirmou” como jogadora de futebol. “Como já tinha desempenhado o papel de jogadora, despertou-me a curiosidade de tirar um curso de árbitros de futebol e um curso de árbitros de futsal, de forma a avaliar com qual dos papéis me identificava”. Nos torneios de verão do Aldenovense, em futsal, desempenhava, habitualmente, o papel de cronometrista, algo que a familiarizou com a arbitragem, não tendo, sequer, faltado o “empurrão” motivacional do árbitro Edgar Gaspar.

 

O primeiro jogo em que participou, mais a sério, foi uma partida de juvenis entre o Serpa e o Vasco da Gama, como assistente de Artur Janeiro e a par de Filipe Mestre. Estávamos no segundo dia do mês de fevereiro do ano passado. Um mês depois, era lançada, a solo, num jogo entre o Moura e o Cabeça Gorda, em benjamins, onde assume ter cometido “um pequeno erro” em relação ao posicionamento no terreno. Uma qualidade! O reconhecimento dos próprios erros. Hoje em dia, diz-se “uma árbitra responsável, autoritária, disciplinada e pedagógica”, créditos que utiliza para o futuro.

 

“Espero chegar longe, como a grande árbitra Sandra Bastos, que um dia gostaria de conhecer, ou, não conseguindo isso, pelo menos, atingir o nível da Catarina Campos”, duas referências na arbitragem nacional. Um caminho em que a Ana Gonçalves promete dar o seu melhor, para chegar o mais longe possível e, em cujo percurso, vai contando, segundo revela, “com o apoio da família, dos amigos e colegas e da União de Freguesias de Vila Nova de São Bento. Agradeço muito a todos, por este grande apoio que me dão em todas as situações”.

 

No início de outubro de 2019 realizou-se, em Beja, o XVIII Encontro Nacional de Árbitros Jovens, um evento formativo em que Ana Gonçalves conseguiu o terceiro lugar na sua categoria, conquistando o direito a ser convidada para estar presente na final da supertaça de futebol de feminino. “Logicamente que será um momento inesquecível e um momento que irá ficar na minha memória”, garante a jovem, sublinhando que esse encontro nacional “foi um momento de grande aprendizagem, em que tivemos formação e avaliações, sem dúvida, um momento de grande valorização que me foi proporcionado e que devo agradecer à Associação de Futebol de Beja e, também, à Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol”.

 

“Hoje em dia fala-se em futebol feminino e em futebol masculino, porque a maior parte das pessoas pensam que o futebol é só para homens, algo que está muito errado. O futebol tanto é para mulheres como para homens, o futebol é um desporto coletivo entre equipas, sejam elas do sexo feminino ou do sexo masculino”. Nem mais! Feliz com este, ainda curto, trajeto na arbitragem, onde espera continuar a crescer, até pelos sonhos largos que alimenta, a jovem aldenovense está ainda focada na vida académica. “Conclui o ensino básico em Vila Nova de S. Bento e estou a fazer o secundário na cidade de Beja. Quando terminar essa etapa logo irei pensar num curso superior, numa área de desporto, ou, em alternativa, concorrer às forças de segurança”. Vamos ver.

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