Diário do Alentejo

Hugo Carvalho: "Gosto dos corta-matos com lama, duros de fazer"

25 de junho 2020 - 10:00

Texto Firmino Paixão

 

Hugo Carvalho nasceu na cidade de Porto Amboim, em Angola, há 39 anos. No primeiro ano de vida chegou a Santo Aleixo da Restauração e, por contingências da profissão itinerante da progenitora, professora, viveu noutras terras alentejanas antes de a família rumar a Lisboa. Na infância, recorda, gostava de praticar desporto: “Andava de bicicleta, jogava à bola na rua, praticava karaté, participava nos corta-matos escolares, mas nunca fui um assíduo praticante de atletismo. Enfim… tive uma infância feliz”.

 

Quando concluiu o 12º ano teve uma experiência profissional como carteiro, em Benfica, até que, em 2001, ingressou no serviço militar, tendo sido colocado em Santarém. E é nessa altura que começa a praticar desporto de forma mais assídua. “Fiz corrida e orientação, corta-mato, e pentatlo militar”. Quando estava no Ribatejo concorreu à Guarda Nacional Republicana (GNR). “Sempre gostei da vida militar. Quando estive no exército adquiri toda aquela disciplina, o gosto por um contacto próximo com a natureza, de modo que não me via com uma profissão que não implicasse a vida no exterior e o contacto com as pessoas”.

 

FOTO: BENTO PALMAFOTO: BENTO PALMA

Voltou ao Alentejo, agora à cidade de Portalegre, ao Centro de Formação da GNR, para adquirir novos conhecimentos em áreas como o direito, Código da Estrada, entre outras, mais específicas para a conclusão do curso. Colocado numa unidade territorial mais a sul, e agora em Beja, começa a olhar para a corrida mais a sério. “A primeira prova da Associação de Atletismo de Beja em que participei realizou-se em 2013. Competi, como atleta individual, na Escalada de São Gens, em Serpa”. E confessa, “sempre a observar, com grande admiração, os atletas do Beja Atlético Clube (BAC), onde já tinha um amigo, João Cruz, o atual presidente. Não vou dizer que não tinha vontade de me juntar a esta equipa, mas não me sentia com a forma física dos atletas que lá estavam. Eles ‘voam’ nas nossas estradas e estradões, mas não baixei os braços e tudo isso motivou-me a treinar mais e melhor”.

 

Com esta vontade e sendo amigo pessoal do presidente do clube, não demorou a envergar a camisola do BAC com a qual esta época, abruptamente interrompida, conquistou no seu escalão títulos como o de campeão distrital de estrada, de corta-mato longo e de montanha, campeão do Alentejo de estrada e de corta-mato longo e um décimo lugar no nacional de corta-mato curto, na Figueira da Foz.

 

Noutro nível, revela ter participado sempre selecionado, nos campeonatos nacionais militares de atletismo. “São provas muito competitivas, com atletas que representam as várias instituições militares, todos com um nível muito alto no nosso panorama nacional”. Quanto ao BAC, único emblema que representou, revela estar “muito feliz” na equipa: “Existe um ambiente familiar, estou rodeado de pessoas que gostam do que fazem e ajudam sempre no que podem com conselhos, dicas, sempre muito prestáveis e que acolhem muito bem os novos elementos”. Foi ali, também, que “trocou” de treinador. Antes, dizia que a esposa era a sua “massagista, nutricionista, apoiante número um e treinadora”, mas “perdeu esse cargo (risos). Tenho de lhe tirar o chapéu por todo este apoio”, adianta o atleta, agora treinado pelo colega de equipa (e de profissão) Carlos Papacinza.

 

Hugo Carvalho é um atleta todo o terreno. “Gosto de todas as disciplinas, todas me fascinam, por querer andar cada vez mais rápido e estar mais forte, mas gosto dos corta-matos com lama, duros de fazer. Custa quando lá andamos no meio, mas quando se finaliza é uma satisfação enorme”.

 

No horizonte tem o sonho de correr uma maratona, mas outro dos desafios que já enfrentou foi a participação no Ironman 70.3, em Cascais. “Gostava de realizar um triatlo, tinha isso em mente, nunca pensei que fosse tão cedo e a estreia foi logo numa prova do circuito mundial de ‘ironman’. Uma experiência que vou guardar para a vida. Valeu a pena todo o empenho e sacrifício pessoal e familiar que implicou, pois antes, durante e após a prova, somos invadidos por um misto de sensações. Só quem a corre será capaz de perceber”.

 

Avalia-se como um atleta mediano mas com vontade de evoluir, sem que isso interfira no meio familiar, embora sinta que a esposa, Cátia Caldeira, e os dois filhos são os seus maiores fãs. Foi assim, por exemplo, no último Campeonato do Alentejo. “Tinha uma claque de luxo, a minha esposa e os meus filhos a assistirem. Quando eles lá estão a carga psicológica ainda é maior, acresce a ‘obrigação’ de uma ter boa prestação. Já que lhes roubo muitas horas da minha companhia, é uma maneira de os compensar. Mesmo quando não estão presente, não corro sozinho. Os três, esposa e filhos, estão sempre no meu pensamento”.

 

O balanço da carreira é positivo, está feliz e confessa-se orgulhoso pelas várias prestações da equipa em campeonatos nacionais. “Temos conseguido estar no ‘top 10’ nacional, ao lado de equipas com outro poder e sinto-me feliz porque estive lá a ajudar a que o Beja Atlético Clube, coletivamente, fosse superior a muitas outras equipas com mais e melhores recursos e maiores apoios”.

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