Diário do Alentejo

“Sonho subir degraus”

21 de abril 2024 - 12:00
Treinador Ricardo Vargas analisa a época em que o Vasco da Gama foi despromovido do Campeonato de PortugalFoto| Firmino Paixão

O Clube de Futebol Vasco da Gama, de Vidigueira, foi despromovido do Campeonato de Portugal, após duas épocas consecutivas a competir a este nível, sob comando do treinador Ricardo Vargas, o técnico que, na época 2021/2022, conduziu o emblema da Vidigueira ao título regional.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

O clube chegou à derradeira jornada ainda com possibilidade de se manter nas competições nacionais, mas já com uma grande dependência de resultados de outros clubes. A perda de pontos para adversários diretos ao longo da época terá estado na origem do insucesso, porém, o treinador Ricardo Vargas concretizou: “Agora é fácil fazermos essa análise. É fácil identificarmos os jogos em que podíamos ter pontuado e não o conseguimos.

Houve dois ou três jogos cujo resultado, não direi que nos condenaram, mas que poderiam ter-nos catapultado para outro patamar e que nos permitiam aumentar a competitividade e a motivação.

O Vasco, neste ano, foi um clube de muitos altos e baixos, não conseguimos ser regulares, fomos muito inconstantes e depois é mais difícil trabalhar sobre derrotas”.

O que disse aos seus jogadores no final do último jogo, em que se consumou a despromoção?Quando o jogo terminou já estávamos conscientes da inevitabilidade da despromoção. O que fiz foi agradecer-lhes por tudo aquilo que foram, ao longo da época, e por tudo o que eles são. Não será a não concretização de um objetivo que pode apagar o que eles têm sido e aquilo que são, enquanto atletas e enquanto homens. Pedi-lhes que levantassem a cabeça, pois teríamos que aceitar aquilo que a vida, muitas vezes, nos dá, e a melhor forma de o fazermos é seguirmos em frente.

 

Os jogadores tiveram sempre uma grande determinação ao longo da época…Sim, mas esta atitude, esta garra, não veio somente nesta época. Houve ali um momento, por volta da décima nona, vigésima jornada, [em que] muita gente pensou que o Vasco da Gama já estaria condenado mas, a verdade é que os jogadores deram uma resposta tremenda, com bons resultados e boas exibições. Houve ali um clique. E o mais importante foi termos diferido a decisão para o jogo final, sabendo que, dependendo de outros adversários, seria sempre complicado. Mas tivemos capacidade para acreditar, capacidade para fazermos o nosso papel, mas, de facto, estava destinado acontecer assim e não conseguimos. Mas foi a crença dos atletas, o acreditar perante tanta dificuldade, que nos deu força para lutarmos até final.

 

Quando partiu para o último jogo, dependendo já de terceiros, ainda teve a esperança de que “as estrelas se alinhassem” e a equipa conseguisse a manutenção?Claro! Sem dúvida. Quem anda nisto tem sempre que acreditar até ao final. O que me doeu mais é que este era um ano muito importante para o Vasco da Gama estabilizar no Campeonato de Portugal. Uma terceira época neste patamar seria determinante para estabilizar o clube, para que tudo se tornasse mais fácil no futuro. Este grupo de atletas, à semelhança de outros no passado, tem continuado a enriquecer a história do clube e nós acreditávamos que era possível. A moldura humana que sempre nos acompanhou, mesmo no último momento, ficou presente para o agradecimento recíproco. Houve um sentimento comum de consciência de que tínhamos feito tudo o que podíamos. Dignificámos ao máximo as cores do clube por onde fomos passando, caracterizava-nos como uma equipa humilde, mas guerreira, mas também competente e com muita qualidade.

 

Mas foi uma experiência enriquecedora para o treinador…Sem dúvida. Foram três épocas de futebol sénior. O ano do título e da subida, dois anos de Campeonato de Portugal. Foi fantástico. Não somos mais os mesmos treinadores de há três anos. Estamos mais preparados, mais competentes. Mas isso não acontece só com a equipa técnica. Estes jogadores estão mais preparados, mais competitivos do que estavam, porque a vivência no Campeonato de Portugal permite isso. E até o próprio clube cresceu em termos de organização, com muita gente a trabalhar em prol de um jogo em casa. Houve muito entrega, todos crescemos e a direção do clube foi fantástica. Não tenho a menor dúvida de que essa aprendizagem, essa organização, acompanhará o clube para o novo contexto que será o campeonato distrital.

 

Olhando para o que foi esta época desportiva, se voltasse atrás teria tomado as mesmas opções? Teria feito as mesmas escolhas?Com toda a certeza. E isto não é desculpa nenhuma, mas, repare que no início da época já estavam equipas a treinar e o Vasco da Gama ainda nem tinha direção. Nós todos sentimos que aquilo não poderia acabar assim. Não podíamos virar as costas ao clube dessa forma. E ficámos todos, a equipa técnica e os jogadores que acreditaram. Naturalmente que com o decorrer da época pensámos que poderíamos encontrar as peças que, no início, não encontrámos, mas a verdade é que o mercado de janeiro é muito ingrato. A experiência que levo deste campeonato é que tem que se investir logo no início. Falámos com muitos jogadores e os nossos atletas estavam sempre à espera de vir alguém que os ajudasse. Mas houve um momento em que sentiram que teriam que ser eles e não podiam contar com mais ajudas. Isso entristeceu-os de certa maneira, mas o clube não podia fugir às suas possibilidades orçamentais. Preservámos muito aquilo a que chamo os princípios de balneário. Mas, sim, voltando atrás, faria o mesmo. Continuaria no Vasco mesmo que em julho ainda não existisse uma direção. Acreditava nos mesmos atletas que acreditei, porque a vontade e o caráter deles merecia-o e eu sei porque o digo. Portanto, tomava as mesmas decisões.

 

O seu futuro passará pelo Vasco da Gama para tentar resgatar o clube para o Campeonato de Portugal?Costuma dizer-se que “o futuro a Deus pertence”. Ficou feito muito trabalho no Vasco da Gama. Quando cheguei ao clube muita gente não me conhecia. Vinha do futebol de formação, onde estive durante 10 anos, embora tivesse um passado enquanto jogador. Foi o trabalho que fiz na formação que me levou a um clube como o Vasco da Gama. Um clube por onde passaram muitos treinadores que saltaram para diferentes patamares e puderam conquistar outras coisas. Estou grato a quem me trouxe para este clube, anteriores e atuais dirigentes. Estou muito agradecido a todos. O trabalho está à vista de toda a gente. Tenho sonhos para continuar a subir degraus, vou continuar a trabalhar como se fosse hoje o meu primeiro dia.

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