Diário do Alentejo

Isabel Montes: “A poesia permite uma expressão mais intensa e visceral das emoções”

30 de abril 2024 - 12:00
Foto | D.R.Foto | D.R.

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Nasceu em Lisboa, no dia 27 de agosto de 1965, e reside em Ferreira do Alentejo há vários anos. É licenciada em Ensino de Português/Francês, pela Escola Superior de Educação de Beja, mestre em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e pós-graduada em Ciências da Educação (DEA), pela Universidade de Granada. É professora de português no Agrupamento de Escolas N.º 1 de Beja.

Paralelamente à carreira docente, colabora com diversas instituições como declamadora de poesia, formadora e dinamizadora de oficinas de escrita criativa. Tem vários livros publicados, de prosa e poesia, de que são exemplos: À Flor dos Sentimentos e Nas Asas da Minha Mente, ambos com a chancela da Corpos Editora; O Homem sem Alma, das Edições Vieira da Silva; e Olívia, a Jogadora #2 do Voleibol de Praia, editado pela Corpos Editora.

Para além da escrita, a fotografia e a pintura são outras expressões de arte que abraça com paixão, expondo, com regularidade, os seus trabalhos.

É autora do blogue “Poemas à sombra da luz”.

Eis Isabel Montes na primeira pessoa!

 

Quando e como foi descoberta a afinidade com as letras?

Desde a infância que fui leitora assídua dos livros, de diferentes autores, da biblioteca itinerante e, mais tarde, fixa, da Fundação Calouste Gulbenkian; os serões à soleira da porta a ouvir histórias da minha mãe Alzira, da vizinha Mariana; as poesias da mãe e da prima Leontina – foram o pilar desta descoberta.

 

 

Quais as motivações para escrever?

A escrita é uma forma de expressar os meus pensamentos, emoções e experiências de uma maneira única. É um meio de me conhecer melhor e de me comunicar com o mundo, transmitir informações e insights sobre determinados assuntos. Quanto à inspiração, encontro-a em diferentes fontes: nas experiências de vida, na natureza e na arte em todas as suas formas.

 

Olívia, a Jogadora #2 do Voleibol de Praia. Que livro é este?

Esta história inspiradora mostra como uma menina corajosa, Olívia, supera a timidez, encontra amigos que partilham o gosto pelo desporto, revelando a importância da perseverança, da coragem e do trabalho em equipa. A editora convidou-me a participar no seu projeto ligado à inteligência artificial, acreditando que a voz de um escritor é única e que a criatividade jamais será substituída. Assim, após aceitar o desafio, foi-me enviado o argumento para um livro infantil com ilustrações e um título. Inspirada no apresentado, criei a história.

 

Tendo a Isabel experimentado várias valências na literatura, existe alguma preferência?

Sinto-me atraída pela liberdade e pela expressão lírica encontradas na poesia. A poesia permite uma expressão mais intensa e visceral das emoções. A escolha cuidadosa das palavras, a musicalidade dos versos e a estrutura poética podem criar uma atmosfera mais intimista.

 

E as outras expressões de arte para além das letras?

Desde cedo que o mundo das artes me conquistou, quer no domínio da música, tendo sido saxofonista na Banda Filarmónica da Sociedade Recreativa de Ferreira do Alentejo, quer na escrita, pintura e fotografia – formas únicas de combinar diferentes tipos de arte para criar uma experiência. Hoje, a minha arte continua a evoluir. A imagem e a palavra continuam a ser os meus melhores aliados na expressão dos meus sentimentos e pensamentos. Encontrei na fusão destas duas formas de arte a minha voz e a minha identidade.

 

E como é combinar imagens e palavras no universo artístico de Isabel?

A fotografia e a literatura são duas expressões de arte distintas, mas que podem combinar-se de maneira surpreendente e poética. Elas compartilham a capacidade de contar histórias, transmitir emoções e capturar momentos únicos, criando uma experiência estética rica e multifacetada. Com base numa fotografia que me cativa, observo-a e deixo que as palavras cheguem… É complicado explicar “a chegada das palavras”. Só depois vejo o texto produzido e verifico se é importante corrigir algo. Algumas vezes, também procuro a ilustração para um texto já elaborado. Em 2011, fiz a minha primeira exposição com o título “O instante”.

 

Sendo uma lisboeta que veio “desaguar” ao Alentejo, que papel desempenha a região na sua escrita?

A tranquilidade e o ritmo mais calmo da vida eram características marcantes da região. As ruas eram ladeadas por casas típicas, onde os vizinhos eram como uma família estendida. As planícies douradas, o cheiro do trigo, o céu estrelado… foram o pano de fundo atraente para a escrita literária.

 

Alguma situação inusitada experimentada ao longo do percurso artístico?

Lembro-me de numa das apresentações do livro À Flor dos Sentimentos, em que vi algumas convidadas a lacrimejar. Os poemas tocaram-lhes o coração.

 

Qual a opinião sobre o universo da escrita em Portugal e no Alentejo?

Existem muitos talentos emergentes na escrita. A criatividade e a diversidade literária são reconhecidas e valorizadas. Quanto às facilidades e dificuldades de publicação, é importante destacar que a indústria editorial é altamente competitiva e exigente. No entanto, conseguir uma publicação ainda é um desafio para muitos escritores, especialmente, para os que estão a começar, que são “obrigados” a pagar, se quiserem ver a sua obra publicada. É importante que os escritores se mantenham informados, persistentes e cuidadosos ao procurar oportunidades de publicação e trabalhem com editoras confiáveis.

 

E o novo acordo ortográfico?

Na minha opinião, o acordo ortográfico não é suficientemente eficaz na unificação da língua portuguesa, pois ainda existem diferenças significativas entre a forma como o português é escrito nos diferentes países. Além disso, considero que o acordo desvaloriza a história e a riqueza da nossa língua portuguesa, pois implica alterações em palavras que há séculos são escritas do mesmo modo.

 

Que sonhos literários moram em Isabel Montes?

Sonho sonhos simples como divulgar os meus textos pelo mundo, num âmbito de solidariedade geográfica e não só. Ir ao encontro do público impossibilitado de aceder aos livros, às gentes que se vestem de solidão.

 

E o que está na “manga”?

Brevemente teremos um livro de poesia infantil ilustrado que irá certamente satisfazer a leitura das crianças e, quiçá, provocar- -lhes o gosto pela leitura e escrita literária.

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